1° EIP

Em 2021, a programação do primeiro encontro digital teve por eixo a produção poética e os estudos críticos de João Cabral de Melo Neto, assim como sua relação com a poesia, as artes visuais, a modernidade e a crise do verso anunciada no século XIX, e os estudos teórico-críticos do século XX. 

O I Encontro Internacional de Poesia

100+1 anos de João Cabral de Melo Neto

ofereceu conferências, palestras

e minicursos sobre:

  • teorias e críticas da poesia,
  • modernidade e crise do verso,
  • poesia e outras artes,
  • a poética de João Cabral de Melo Neto,
  • poesia brasileira moderna e contemporânea,
  • leitura de poesia e poesia latino-americana.

Houve sessões de comunicações propostas por estudantes de cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado em Letras e outras áreas afins; docentes, pesquisadores e profissionais cuja área de atuação e estudos apresentam relação com os 7 eixos temáticos do Encontro:

  1. Poesia brasileira e a crítica
  2. Teorias da poesia
  3. Poesia, outras artes e outras mídias
  4. Poesia moderna e contemporânea
  5. A poética de João Cabral
  6. Relações entre poesia e prosa
  7. Poesia e ensino

A primeira edição ainda ofereceu um sarau de poemas promovido pelos alunos de graduação em Letras da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, campus Araraquara e com uma exposição virtual de poemas.

Programação Geral 1° EIP

Segunda-feira

08/11/2021

10:00-12:00 – Conferências de Abertura Oficial do evento com:

  • La huella de la poética de Cabral en la poesia de Juan Brossa Palestrante: Glòria Bordons (Universidad de Barcelona – Espanha)
  • João Cabral e o Drama da Destinação                              Palestrante: Marcos Siscar (IEL – Unicamp

15:00-17:00 – Minicurso 1: Poesia, ou o limite da palavra escrita, por Fernando Carmino Marques (IPG – Portugal)

19:00-21:00 – Mesa Redonda 1: A poesia na modernidade: ruptura, crise e lirismo 

  • “O poema e seus tensionamentos – ou: quando de algo uma escrita não se pode lembrar”, Francine Weiss (Unifesp)
  • “De Mallarmé a João Cabral”, Guacira Marcondes Machado Leite (Unesp Araraquara)
  • “O mundo vale ou não vale o mundo, meu bem? A ideia de mundo na poesia moderna”, Márcio Scheel (Ibilce – Unesp Rio Preto)

 

Terça-feira

09/11/2021

8:30-9:30 – Sessões de comunicação – mesas temáticas

10:00-12:00 – Mesa redonda 2: Poesia, oralidade e encenação: a voz e o corpo em movimento

  • “Cantoria de Repente como gênero da Cultura Popular”, Edmilson Ferreira dos Santos (Repentista)
  • “Oralidade e performance: os recursos retóricos e estilísticos da lírica medieval”, Janaína Marques Ferreira Rocha (Universidade de Santiago de Compostela)
  • “Alta definição poética”, Emílio Tavares Lima (Coordenador do Projeto “Djorson Nobu – Nova Geração”)

15:00-17:00 – Minicurso 1: Poesia, ou o limite da palavra escrita, por Fernando Carmino Marques (IPG – Portugal)

19:00-20:00 – Mesa redonda 3: Ainda ou sempre o Pernambuco e a Espanha de João Cabral

  • “Imagens da Espanha em poemas inéditos de João Cabral de Melo Neto”, Edneia Rodrigues Ribeiro (IFNMG – Campus Montes Claros)
  • “João Cabral de Melo Neto, da fome e seu ‘batalhão de formigas'”, Waltencir Alves de Oliveira (DELLIN – UFPR)
  • “Pernambuco e Sevilha na poesia de João Cabral”, Fabiane Renata Borsato (Unesp Araraquara)

Quarta-feira

10/11/2024

8:30-9:30 – Sessões de comunicação – mesas temáticas

10:00-12:00 – Mesa redonda 4: Poesia e imagem

  • “Crise da eloquência e sublime elíptico na poesia simbolista brasileira”, Fabiano Rodrigo da Silva Santos (Unesp Assis)
  • “Quando a linguagem é cor. A imagem na poética de Yves Bonnefoy”, Leila de Aguiar Costa (Unifesp)
  • “A vocação imagética da poesia”, Márcio Thamos (Unesp Araraquara

15:00-17:00 – Minicurso 2: “Los Heraldos Negros” e a Vanguarda, por Silvia Adoue (Unesp Araraquara)

19:00-21:00 – Mesa redonda 5: Poesia Moderna e contemporânea: olhares sobre Mário, João e Maria

  • “Mário de Andrade, o rio e a filosofia oriental”, Cristiane Rodrigues de Souza (UFMS/CPTL)
  • “Poesia e autoria feminina”, Fani Miranda Tabak (UFTM)
  •  “João Cabral: o poema como um rio”, Pedro Marques (Unifesp)

Quinta-feira

11/11/2021

8:30-9:30 – Sessões de comunicação – mesas temáticas

10:00-12:00 – Mesa redonda 6: Espacialismo, fanopéia e ciberpoema

  • “João Cabral e a visualidade”, Omar Khouri (IA – Unesp)
  • “A poesia espacialista francesa: os microformatos”, Thiago Buoro (Poeta visual – Professor do EJA)
  • “Problema 15: A Educação pela Pedra” (Uma homenagem ciberliterária a João Cabral de Melo Neto), Colectivo D1G1TO (Ana Gago; Diogo Marques; João Santa Cruz)

14:00-16:00 – Mesa redonda 7: João Cabral na imprensa, no livro e no poema

  • “Sobre ‘A bailarina’ de João Cabral de Melo Neto”, Pablo Simpson (Ibilce – Unesp Rio Preto)
  • “O poeta João Cabral de Melo Neto no Jornal do Brasil de 1940 a 1960”, Joelma Siqueira (UF – Viçosa)
  • “João Cabral e os rastro de uma antologia não publicada”, Solange Fiuza Yokozawa (UFG)

17:00-18:00 – Exposição do poema Colectivo D1G1TO’

Sarau de encerramento do evento

Programação Sessões de Comunicação

1° EIP

Terça-feira

09/11/2021 das 8h30 às 9h30

Eixo temático 1: Poesia brasileira e a crítica
S1
DANTAS MOTA: ENTRE A PAISAGEM E A POESIA
Ana Elisa Tonetti de Almeida.
POESIA ENGAJADA NA LITERATURA CAXIENSE
Delcio Antônio Agliardi

Eixo temático 2: Teorias da poesia
S2
AS FORMAS DA MUSA: AS POÉTICAS DE PAUL VERLAINE
Cristovam Bruno Gomes Cavalcante
“SAPO-CURURU”: A FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Larissa Fernanda Steinle
A POESIA PELO PENSAMENTO DE ALAIN BADIOU
Lucas Rodrigues Negri 

Eixo temático 4: Poesia moderna e contemporânea
S3
POESIA COM NOTA DE RODAPÉ
Ana Cecilia Agua de Melo
MINHA PÁTRIA É MEU FILHO E MINHA BIBLIOTECA: A POESIA RESPONSIVA DE ROBERTO BOLAÑO
André Carneiro Ramos
FRAGMENTAÇÕES E DISSONÂNCIAS DO EU LÍRICO NA OBRA POÉTICA DE RIMBAUD E JULES LAFORGUE
Andressa Cristina de Oliveira

S4
VERSOS DE UM DESTERRADO: SAUDADE DA PÁTRIA E PERSEGUIÇÃO POLÍTICA NOS POEMAS HUGOANOS
Daniela Mantarro Callipo
LUIZ BACELLAR, LEITOR DE JOÃO CABRAL
Fabio Fadul de Moura
A RELAÇÃO ENTRE METRÓPOLE E O EU POÉTICO NEGRO NA POESIA DE PAULO COLINA
Fernanda Scheluchuak Dias

Quarta-feira

10/11/2021 das 8h30 às 9h30

Eixo temático 3: Poesia, outras artes e outras mídias
S1
EISENSTEIN, PÚCHKIN E O PODER DAS IMAGENS
Erivoneide Marlene de Barros Pereira
INTERTEXTUALIDADE E LITERATURA POPULAR EM SILVESTRE, DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO
Heloísa Helena Ribeiro
R(AB)ISCOS: A POESIA QUE ESCORRE DA PENA DE CUMMINGS E DO PINCEL DE LEONILSON
Laura Moreira Teixeira

S2
FORMA E PERFORMANCE: ONDE NASCE E COMO ACONTECE UMA OBRA DE SPOKEN WORD POETRY
Luís Otávio Araujo Leal de Souza
“O POEMA DA PINTURA – A MOLDURA E A MEMÓRIA EM POEMAS, OBRA DE PORTINARI”
Márcia Maria Sant´Ana Jóe
ESCREVER É “DAR A VER”: O POETA-CURADOR, O LIVRO MUSEU
Mariane Tavares

Eixo temático 4: Poesia moderna e contemporânea
S3
O “NAUFRÁGIO” DE VERUNSCHK: DA PÁGINA EM BRANCO AO MERGULHO NAS PALAVRAS
Isabela Araújo Moraes
Lígia de Medeiros Nogueira
O PODER TRANSGRESSOR DA POESIA – CONSIDERAÇÕES SOBRE LINGUAGEM E SIMBOLOGIA
Karen Katiúcia Oliveira Leite
A VARIANTE RÍTMICA NA CONSTRUÇÃO DO CARÁTER METAPOÉTICO EM “g”
Laís Fernanda Espinosa Pereira
Laura Saconato Tadeu
Raphaela Pestana

Eixo temático 6: Relações entre poesia e prosa
S4
OS NATAIS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: ENTRE A POESIA E A PROSA
Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro 

Eixo temático 7: Poesia e ensino
S5
A POESIA NA FORMAÇÃO DE UM SUJEITO CRÍTICO E REFLEXIVO: DIÁLOGO DIALÓGICO ENTRE RAP, SLAN E CÂNONES LITERÁRIOS EM SALA DE AULA
Marcelo da Silva Justiniano
EDUCAÇÃO EM QUATRO DIMENSÕES E ENSINO DE POESIA: CONVERGÊNCIAS
Rodrigo Valverde Denubila.

Quinta-feira

11/11/2021 das 8h30 às 9h30

Eixo temático 3: Poesia, outras artes e outras mídias
S1
FEUILLES DE ROUTE E PAU-BRASIL: AS RELAÇÕES ESTÉTICAS ENTRE BLAISE CENDRARS, OSWALD DE ANDRADE E TARSILA DO AMARAL
Natalia Aparecida Bisio de Araujo 
POESIA E FOTOGRAFIAS EM “O CADERNO DAS INVIABILIDADES, DE ELISA CAETANO E LAÍS BLANCO
Renan Augusto Ferreira Bolognin

Eixo temático 6: Relações entre poesia e prosa
S2
A NARRATIVA POÉTICA EM “O BÚFALO” DE CLARICE LISPECTOR
Letícia Coleone Pires
POESIA E PROSA NA OBRA DE ANTONIO CANDIDO: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E ALUÍSIO AZEVEDO
Lívia Fernandes Nunes

Eixo temático 4: Poesia moderna e contemporânea
S3
A POETAGEM BONITA NO SÉCULO XXI
Lilian Escorel de Carvalho
UMA FACE DO AMOR NA LÍRICA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Lysllaynne Pryscylla Tavela
POR UM LIRISMO OBJETIVO: A MATÉRIA-EMOÇÃO DE ORIDES FONTELA
Nathaly Felipe Ferreira Alves

S4
O NAUFRÁGIO DA INVENCÍVEL ARMADA: HAROLDO DE CAMPOS E STÉPHANE
MALLARMÉ
Nicollas Ranieri de Moraes Pessoa
ILUMINAÇÕES PROFANAS: O UNIVERSO ONÍRICO-URBANO EM PARANÓIA, DE ROBERTO PIVA
Rangel Gomes de Andrade
A LONGA NOITE SIMBOLISTA: A PERMANÊNCIA DO FIN-DE-SIÈCLE NA POESIA DE CECÍLIA MEIRELES
Sheila Dálio

MINICURSO 1: Poesia, ou o limite da palavra escrita.
Prof. Dr. Fernando Marques

  • Descrição: Uma das características da poesia é que ela utiliza uma linguagem musical, sustentada no som e no ritmo. Aliterações, anáforas e assonâncias formam um eco sonoro só totalmente perceptível quando de uma leitura oral. Mas a linguagem poética também é feita de pausas e de silêncios elucidativos que dizem muito mais que qualquer palavra. É por isso que só uma interpretação que considere estes aspectos pode dar ao poema todo o seu significado. É pela leitura oral que a poesia devolve à palavra o seu poder encantatório, capaz de agir sobre a emoção e a inteligência de quem a ouve.
    Número de encontros e duração: 2 de 2 horas cada = total: 4 horas
    Primeira sessão – data: 8 de novembro de 2021, 15-17h
    Conteúdo programado: Alguns princípios teóricos da poesia moderna e contemporânea.
    • Ler poesia moderna e contemporânea. Ou libertar-se da forma para reencontrar outra forma.
    • Ser poeta não é só escrever poesia.
    • É pelos cinco sentidos que o poeta exprime a sua percepção do mundo.
    Interpretar:
    • A força da memorização.
    • A tua voz na minha.
    • A poesia não tem género, porque a emoção não tem género.
    Segunda sessão – data: 9 de novembro de 2021, 15-17h
    Exercícios práticos de interpretação (para isso, os participantes devem escolher um poema de seu agrado, de preferência poesia dos séculos XX e XXI).
    • O gesto procede a voz; o corpo procede a mente; a voz denuncia o propósito; a entoação é o timbre da melodia poética; do silêncio venho, para o silêncio vou.
    • O outro no eu, o eu no outro.
  • Inscreva-se aqui.

    MINICURSO 2: “Los Heraldos Negros” e a Vanguarda
    Profa. Dra. Silvia Adoue

    • Descrição: O objetivo deste minicurso é discutir as causas do surgimento da vanguarda. Para isso, analisaremos, num primeiro momento o “Los heraldos negros” (“Os mensageiros negros”), do poeta surrealista peruano César Vallejo (1892-1938). Depois, estudaremos o contexto histórico em que o poema circulou. Discutiremos então os desafios para representar o estado de espírito provocado pelas grandes mudanças históricas desse período.
      Número de encontros e duração: 1 encontro de 2 horas.
      Data: 10 de novembro de 2021, 15-17h
    • Inscreva-se aqui.

      PALESTRANTES 1° EIP

      Cristiane Rodrigues de Souza

      Professora Doutora e Docente na UFMS/CPTL

      Mário de Andrade, o rio e a filosofia oriental

      Resumo: Em “A meditação sobre o Tietê”, poema de Mário de Andrade publicado em Lira paulistana (1945, publicação póstuma no ano seguinte), o eu lírico volta o olhar sobre si mesmo, ao se ver, como Narciso, nas águas escuras do rio. No entanto, misturado ao reflexo que revela o percurso de poeta e de intelectual, aparece o outro, já que o eu lírico se percebe fundido de maneira angustiada à civilização-água insalubre. Dessa forma, ele se compreende, por meio da experiência do próprio corpo, não apenas como uma subjetividade isolada, mas como um ser que se constitui por meio da entrega – aos brasileiros, ao rio, à noite –, apreendendo a dor e a opressão que formam a paisagem. Assim, na “Meditação” há a consciência e a dor de tudo amar, na maneira como aparece descrita, em 1940, em carta de Mário de Andrade a Oneyda Alvarenga. “Tudoamar”, na medida em que configura a transformação do eu no outro, implica o conhecimento direto e profundo da alteridade que ultrapassa formulações racionais. Assim, o sujeito de “A meditação sobre o Tietê” está perto da experiência sensível do corpo e da alma, próximo ao estado preconizado pelo zen, aproximando-se, dessa forma, da filosofia oriental que está na base da formação de intelectual e de poeta de Mário de Andrade.

      D1G1T0 – Indivíduo colectivo

      Coletivo D1G1T0 (Ana Gago; Diogo Marques; João Santa Cruz)
      Criado em 2015, a partir dos cruzamentos (in)disciplinares entre arte, ciência e tecnologia, D1G1T0 (wr3ading d1g1t5) tem-se debruçado sobre o potencial dos meios digitais enquanto questionamento auto e metarreflexivo no que diz respeito aos processos de escrileitura e às materialidades daí derivadas. Enquanto coletivo (ciber)literário, e na senda de uma tradição experimentalista iniciada com o movimento da Poesia Experimental Portuguesa (PO-EX), D1G1T0 explora aspetos da criatividade computacional, nomeadamente através da reinterpretação do património imaterial literário em língua portuguesa. Resultantes de processos colaborativos, as suas obras convocam leituras multisensoriais, a várias mãos [(ou dígitos) que escrevem e leem. De entre as várias exposições e festivais de arte em que participaram contam-se PLUNC 2015, FOLIO 2017, FILE 2017, ARTeFACTo 2018 e ELO 2021.

      + info: https://wreading-digits.com

      “Problema 15: A Educação pela Pedra” (uma homenagem ciberliterária a João Cabral de Melo Neto)
      RESUMO: Nas comemorações do centenário do nascimento de João Cabral de Melo Neto, o coletivo D1G1T0 [wreading-digits.com] propõe uma releitura ciberliterária do poema “A Educação pela Pedra”, em tensão espiralar com o problema mecânico n.º 15 de Aristóteles (“sobre a esfericidade das pedras existentes junto à costa”). Tratando-se de um ciberpoema de assumida natureza plagiotrópica, no contexto específico do I Encontro Internacional de Poesia UNESP, “Problema 15: Educação pela Pedra” será abordado pelos seus autores partindo de uma análise conjunta ao trabalho recente do coletivo no âmbito da Ciberliteratura em língua portuguesa. A análise do referido conjunto de obras servirá, ainda, como ponto de partida para uma reflexão alargada sobre a poesia perante o paradigma (pós-)digital, tendo como base uma experiência de tempo diametralmente antagónica: a do tempo da pedra (filosofal e/ou concreta).

      Edmilson Ferreira dos Santos

      É repentista profissional e mestre em Linguística pela UFPB, professor na Escola Estadual Maria Emília Romeiro Estelita, em Olinda-PE e apresenta o programa Prosa de Mestre, em seu canal no YouTube, Facebook e Twitch TV.

      Cantoria de Repente como gênero da Cultura Popular

      Resumo: A Cantoria de Repente, enquanto gênero da cultura popular, se perfaz na/pela linguagem. Como tal, é ponte entre os sujeitos envolvidos e seus mundos, sócio-histórico e espacialmente delimitados. Sua literariedade coloca em evidência o plano da expressão poético-musical, cuja improvisação é o componente central da performance e recria os conteúdos na sua organização sociocomunicativa. Por isso é interface, porque medeia uma relação de natureza dialógica (BAKHTIN, 2002), cuja reflexão sobre a linguagem está fundada nas múltiplas vozes e vocalizações que se defrontam. É complexa, porque se constitui de normas objetivas que exigem habilidades específicas para sua execução, ao mesmo tempo em que se reveste de imagens poéticas valoradas subjetivamente. Regras composicionais rígidas, como rima – sonora e gráfica –, padrões métricos – que variam de acordo com as modalidades performatizadas –, variedade temática e uso consciente de recursos linguísticos diversos tornam o ato de cantar de improviso algo desafiador para o repentista e atrativo para o público, cuja recepção (JAUSS, 1994) advém das expectativas que dizem respeito ao conhecimento prévio do gênero e da forma, sempre permeáveis a um novo repertório. Com base nesta concepção dialógica da linguagem repleta de requisitos objetivos e subjetivos, pretende-se discorrer acerca da relevância da arte do repente enquanto gênero, sua complexidade e sua aplicabilidade nos mais variados contextos interativos, possibilitando reflexões que ultrapassam a mera performance verbal. Busca-se, também, à luz de Zumthor (2007) e Santos (2019), averiguar os diferentes mecanismos presentes nos atos performáticos do repentista, que partem dos seus corpos: vocalização, movimentos, gestos e demais ações, dentro e fora do espaço de atuação. Isto porque, segundo Zumthor (2010), a oralidade não se reduz meramente à ação da voz, mas a tudo que em nós se remete ao outro. O corpo, na Cantoria de Repente, nesta compreensão, não apenas oraliza, mas fala; é suporte, ponto de partida e de chegada – via performance – da linguagem e suas múltiplas possibilidades de se dizer, nas inúmeras estratégias de expressão. Os estudos voltados para esta temática apontam para a importância do fortalecimento das manifestações populares como reforço identitário dos sujeitos envolvidos.

      Edneia Rodrigues Ribeiro

      Doutora em Letras-Estudos Literários (UFMG) e Professora de Literatura (IFNMG – Campus Montes Claros)

      Imagens da Espanha em poemas inéditos de João Cabral de Melo Neto

      Resumo: Desde 1947, quando se torna vice-cônsul do Brasil em Barcelona, é notório o interesse de João Cabral de Melo de Neto pela Espanha, conforme atestam Ricardo Souza de Carvalho e Helânia Cunha de Sousa Cardoso, entre outros estudiosos. Neste trabalho, será analisada a recorrência de temas hispânicos nos textos inéditos descobertos no espólio documental do poeta sob os cuidados do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira, da Fundação Casa de Rui Barbosa. Entre os 53 poemas publicados na Poesia Completa de João Cabral (2020), destacam-se “Marina de Andaluzia”, “As roupas de tourear de Manolete” e “Retrato de Picasso vestido de caçador”. Serão apresentados, ainda, “À nova Espanha” e “Tento descrever-te Sevilha” que, devido a dúvidas acerca da caligrafia de João Cabral, não foram incluídos na seção de Inéditos da sua Poesia Completa.

      Emílio Tavares Lima

      Graduado em Ciência da Comunicação e da Cultura pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa, Técnico de Comunicação na Escola Secundária de Sacavém, Coordenador do Projeto “Djorson Nobu – Nova Geração”, Prêmio “Best of Guiné-Bissau Awards”, na categoria da literatura, em 2018 e 2019.

      Alta Definição Poética

      Resumo: A minha comunicação pretende apresentar o que conceituo como “Alta Definição Poética”, ou seja, a poesia como linguagem de intervenção e declamação/dramatização. Devo traçar um paralelismo entre as tradições orais em África e a tradição grega. O objetivo da comunicação é projetar aquela que é hoje considerada parente pobre da literatura, a poesia, ao mais alto grau de socialização, pois assim como a poesia gozou de grande prestígio na civilização do povo Grego, declamada em praças públicas, na tradição guineense os Griots, Djidius e anciãos preservaram as suas memórias e tradições contando histórias e cantando poemas. Minha fala será costurada pela leitura dramatizada de alguns dos meus poemas, buscando problematizar a poesia como canto e dar coesão às minhas reflexões que querem contrariar a volatilidade da memória e aproximar poesia, oralidade e canto… tudo com energia dramática e dinamismo para captar atenção da audiência com meus sonantes poemas.

      Fabiane Renata Borsato

      Doutora em Estudos Literários e Professora da FCL – Unesp Araraquara

      Pernambuco e Sevilha na poesia de João Cabral

      Resumo: Pernambuco e Sevilha são apresentadas por João Cabral de Melo Neto como duas regiões de aprendizagem da linguagem poética por possuírem paisagens e culturas em que o poeta encontrou temas, formas artísticas e ritmos matriciais de sua poesia. Em estudo anterior, verifiquei que as regiões de Sevilha e Pernambuco, quando justapostas, alteram a habitual configuração física das paisagens pernambucanas ao suplantar os aspectos sociais e humanos recorrentes em poemas que dão a ver Pernambuco. Neste trabalho, analisarei alguns poemas que não justapõem as corografias de Pernambuco e Sevilha para compreensão da perspectiva adotada pelas vozes poéticas e do andamento rítmico desses poemas quando apresentam separadamente as duas paisagens, considerando o contexto de criação dos textos poéticos.

      Fabiano Rodrigo da Silva Santos

      Doutorado em Estudos Literários, pela Unesp, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara e Docente na Unesp de Assis.

      Crise da eloquência e sublime elíptico na poesia simbolista brasileira

      Resumo: As presentes considerações investigam a mudança ocorrida na poética do sublime entre o romantismo e o simbolismo brasileiro que atesta uma espécie de crise da eloquência, com consequente abertura da poesia à dimensão da sublimidade elíptica.  A repercussão dos debates promovidos por Mallarmé e seus discípulos acerca da essência do fenômeno poético, entrevista para além das convenções da lírica, pautadas no imperativo do verso, das estruturas rítmicas fixas e de sistema imagéticos previsíveis junto ao ambiente letrado brasileiro parece impelir os poetas simbolistas locais à revisão de certos referenciais poéticos, em particular no que tange à plasmação dos fenômenos enfeixados pela linguagem do sublime. Restauradores da cosmovisão idealista que enformava a concepção de poesia romântica, os simbolistas brasileiros também serão, como a geração anterior, assombrados pelas ideias do absoluto, da totalidade e da transcendência, que ocuparam a dicção eloquente e encantatória do romantismo tradicional, que entre nós teve expressão mais bem acabada na poesia de Castro Alves. Com efeito, Castro Alves porta lições de pasmo diante da grandeza que sulcam sensivelmente o ideário poético de fim do século XIX, ecoando, por exemplo, na impetuosa voragem das imagens evocativas de um Cruz e Sousa, mesmo que nesse poeta, tais influxos sejam assimilados pela modalidade da ode à catástrofe, haurida da leitura de Baudelaire. Todavia, o modelo de eloquência oferecido por Castro Alves sofre um esfacelamento na dicção da poesia simbolista, engendrada em ambiente permeável à crise do ideal, à perda da aura, à decadência.  Junto aos nossos simbolistas, a grandeza surge como dinâmica inefável a debater-se constrangida pelos limites da forma fixa e dos esquemas retóricos convencionais.  O sublime, então, não se conforma com a imagem estável, mas se precipita na alegoria fragmentária e como procedimento estrutural impele a metáfora à elipse e o verso ao limite.  Fragmentação do ritmo, metáforas obscuras, alternância entre canto, silêncio e melopeia, distendida em intrincados enjambements ou mesmo, eventualmente, no fluxo singular do poema em prosa, são algumas das alternativas apresentadas pela poesia simbolista brasileira para plasmar a experiência de confronto com a grandeza para além dos limites da poesia da eloquência.

      Fani Tabak

      Professora Doutora em Estudos Literários, Pós Doutora na University of Nottingham (UK) em Literatura Comparada, Coordenadora GT Mulher e Literatura Anpoll. Professora associada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

      Poesia e autoria feminina

      Resumo: Em 2009, em uma edição do Seminário Mulher e Literatura, Maria Teresa Horta fez uma emocionante apresentação sobre a concepção de poesia que tem e como ela se relaciona com a sua própria escrita. Horta menciona a tensa e profunda relação entre o ler e o escrever, uma fusão que se encontra em uma imagem de fusão de águas, correnteza de rio. A partir de sua fala, fica evidente a relação entre a construção da poesia e a subjetividade inerente à condição da mulher. A partir dessa perspectiva, que dialoga com a ideia de que a linguagem carrega marcas profundas de quem a usa, estabelecemos uma leitura da poesia de autoria feminina que revela no construto poético a aproximação feminina dos aspectos da vida.

      Francine Weiss

      Mestre em Literatura Brasileira, Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela UNICAMP, Pós- doutorado no IEL/ UNICAMP, em Literatura Brasileira, Pós-doutorado em Estudos da Tradução, na DLMUSP e Professora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

      O poema e seus tensionamentos – ou: quando de algo uma escrita não se pode lembrar

      Resumo: O objetivo da exposição será problematizar aspectos relacionados a concepções mais ou menos consagradas do que seria lirismo, do que seriam prosa e seu inverso, do que se dramatiza na escrita de poemas, do que seriam eventuais abismos entre esses antagonismos (?) e multiplicidades. Problematizar concepções mais ou menos cristalizadas e reproduzidas no discurso crítico dedicado ao texto poético, que se costumam delimitar a partir daquela noção primeira (a lírica). A proposição é pensar a escrita poética a partir de um conjunto de tensionamentos e, especialmente, como uma escrita em que se podem discernir relações: relações entre a prosa e o poema (ou o verso); relações entre a enunciação de uma eventual subjetividade (qualquer que seja sua configuração) e o recurso à narratividade e/ou à permanência (ou resgate) da referencialidade; relações entre tal subjetividade (voz?) e alteridades com que / de que ela (io e tú) se possa constituir; relações entre o lírico e o épico (qual épico?), entre o que se narra e o que se encena, ou esfacelamentos de uma(s) e de outra(s) dessas posições em seus cruzamentos, suas intersecções; relações entre o poema singular como matriz de sentido e o livro ou o conjunto como unidade compositiva; tensionamentos e deslizamentos genéricos com ou sem possibilidade de se pensarem hibridismos; deslocamentos como aqueles que enunciam um texto escrito em direção a um leitor, com um leitor em gestos de endereçamento ou de suposição de comunidades derivadas (apoiadas por sobre) (d)a textualidade em que se esboçaram; deslizamentos entre a elevação e a dignidade enunciativas e a busca deliberada do tom baixo, da conversa ao pé do ouvido. Pretendem-se experimentar potenciais rendimentos dessas indagações teóricas e suas derivas, no contexto da poesia brasileira entre o final do século XIX e o XXI, havendo ênfase, em função do contexto da fala, para o trabalho de João Cabral de Melo Neto, em diálogo com outras poéticas do período delimitado.

      Glòria Bordons

      Doctora en Filología Catalana por la Universidad Autónoma de Barcelona (España). Catedrática de Filología Catalana del Departamento de Educación Lingüística y Literaria de la Universidad de Barcelona (España)

      La huella de la poética de Cabral en la poesía de Joan Brossa

      Resumo: João Cabral de Melo Neto fue una figura trascendental para Joan Brossa. Le conoció en 1948 aproximadamente y, gracias a sus conversaciones, el poeta catalán se reafirmó en el surrealismo en el que se habían iniciado tanto él como sus compañeros de Dau al Set (grupo de tres pintores: Antoni Tàpies, Joan Ponç y Modest Cuixart; un filosofo: Arnau Puig; un poeta, Joan Brossa; y el editor Joan Josep Tharrats, que iniciaron una pequeña revista el año 1947). Pero además Cabral les aconsejó que aplicaran al surrealismo un compromiso social y les descubrió el marxismo. Gracias a esto, Brossa dió un giro a su obra. Su libro Em va fer Joan Brossa, publicado el 1951, apareció con un prólogo de Cabral, imprescindible para conocer la importancia del cambio dado por Brossa. A su vez Brossa le tradujo al catalán unos poemas que aparecieron en la revista Dau al set y, tras la partida de Cabral a Londres, se escribieron algunas cartas que evidencian la afinidad de sus miradas sobre la creación artística y literaria. No se reencontraron hasta el año 1993 en Rio de Janeiro, con motivo de la presentación de la Enciclopedia Virada do Seculo que homenajeó tres Joãos: John Ashbery, Joan Brossa y João Cabral. La conferencia que presentaré versará sobre esta relación, la huella de Cabral sobre Brossa, y como este último aplicó a su poesía el compromiso social que le indicó Cabral. Para ello fijaremos nuestra atención en la obra de Brossa de aquellos años y posterior, en la pasión de ambos por Joan Miró, y en las mismas ideas de Cabral expresadas especialmente en el ensayo Poesia e composição que el poeta brasileño leyó en la Biblioteca de São Paulo el año 1951.

      Guacira Marcondes Machado Leite

      Graduada em Letras Românicas pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara. Preparação da Maîtrise francesa – Université Aix-Marseille (1969-1970). Mestre em Letras (Língua e Literatura Francesa) pela Universidade de São Paulo (1982) e Doutora em Letras (Língua e Literatura Francesa) pela Universidade de São Paulo (1991). Professora Livre Docente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (a partir de 2000). Professora de Graduação (1971-2014) da Área de Língua e Literatura Francesa e de Pós-Graduação (1990-até hoje) em Estudos Literários da FCL da Unesp de Araraquara. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literaturas Estrangeiras Modernas, Literaturas Vernáculas e Teoria Literária. Orienta Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado sobre poesia, narrativa, tradução. Fundou (1990) e é Coordenadora da Revista Lettres Françaises (Unesp/Araraquara). Líder do Grupo de Pesquisa do CNPq – “O Simbolismo: antecedentes e repercussões”.

      De Mallarmé a João Cabral

      Resumo: Esta leitura pretende estabelecer um percurso entre a obra de Stéphane Mallarmé (1842-1898) e a poesia que pratica, sobretudo inicialmente, João Cabral de Melo Neto (1920-1993).O poeta francês saiu do romantismo, na sequência de Charles Baudelaire (1821-1867), e como aconteceu com a maioria dos novos poetas, lembra P. Bénichou, por efeito de um traumatismo histórico, a posição dos problemas que viviam não foi afetada, mas sim o modo de responder a eles. Agora, uma versão negativa do romantismo ocupou a nova geração, sem Deus nem fieis e o desgosto de si mesmo, praticando a poesia da solidão. Mallarmé vai mais além, e duvida da possibilidade de comunicação com o outro, vendo no silêncio uma espécie de realização suprema da poesia, usando recursos que a colocam fora do alcance do público. Está aqui o início de seu percurso poético, que vai levá-lo a explorar todas as possibilidades criativas e a dar origem a uma certa tradição seguida por muitos poetas depois dele, como acontece com João Cabral.

      Janaína Marques Ferreira Rocha

      Universidade de Santiago de Compostela

      Joelma Siqueira

      Doutora em Literatura Brasileira (USP). Professora Associada da Universidade Federal de Viçosa.

      O poeta João Cabral de Melo Neto no Jornal do Brasil de 1940 a 1960.

      Resumo: A presente conferência tem por objetivo discutir aspectos relevantes da recepção crítica da poesia de João Cabral de Melo Neto a partir da análise de como se deu a divulgação de sua obra na imprensa brasileira, sobretudo no Jornal do Brasil, que entre os anos de 1950 e 1960, passou por um processo intenso de reformulação, responsável por torná-lo o periódico símbolo da modernização da imprensa escrita no período. Pretende-se, portanto, contribuir para as discussões sobre o alcance da mídia no campo da produção erudita, tendo em vista a poesia cabralina.

      Leila de Aguiar

      Doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, Pós-doutorado pela Unesp (FCLar) e pela Unicamp (IEL-IFCH). Profa. Dra. Adjunta IV nos Depto. de Letras e Programa de Pós-Graduação em Letras – Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Universidade Federal de São Paulo

      Quando a linguagem é cor. A imagem na poética de Yves Bonnefoy 

      Resumo: Em Notas sobre a cor (Remarques sur la couleur), o poeta francês contemporâneo Yves Bonnefoy insinua que somente percebemos a realidade que nomeamos. Bonnefoy, cuja poética recupera a presença e a imanência da(s) palavra(s), exercita-se em um esforço de descrição que, em algumas das prosas poéticas de Notas sobre a cor, muito se aparenta à multissecular hipotipose. Ali, o que se vê ─ pois que os limites entre texto e imagem perdem seus contornos ─ é um sujeito poético que tenta escapar de um Logos tirânico e autoritário: em Bonnefoy, a verdade das palavras pertence às coisas, está inscrita no mundo. Se não poética referencial, ao menos há na obra bonnefidianna a busca por uma poética do “simples”. Uma poética que se interroga sobre os (des)limites da mimesis.  É, pois, com algumas observações sobre Notas sobre a cor ─ apoiadas em leituras de alguns poemas em prosa desse volume ─ que procurarei demonstrar como coisas, tons, cores, pedras inscrevem-se em um epifania do sensível.

      Marcio Scheel

      Graduado em Letras (Português e Alemão) pela UNESP/FCL (Araraquara). Professor Assistente Doutor, na área de Teoria Literária, da UNESP/SJRP.

      O mundo vale ou não vale o mundo, meu bem? a ideia de mundo na poesia moderna

      Resumo: Como aponta Edison Bariani Junior, em seu livro O labirinto de Dédalos: A ideia de mundo como horizonte da existência (2018), a filosofia e a ciência modernas dedicaram parte de seus esforços teóricos em pensar e compreender de que modo percebemos o mundo, nos relacionamos com ele e, de certo modo, o criamos na mesma medida em que somos afetados por ele, ou seja, em que ele também nos cria. Desde Kant, então, sabe-se que o problema essencial acerca do mundo é que ele é incognoscível em si mesmo, dado a multiplicidade e infinitude de fenômenos que o constituem, logo, não pode ser reduzido a um conceito universal, abrangente e unívoco, atendendo, assim, às demandas tanto da filosofia sistemática quanto da ciência.  Por isso mesmo, nossa hipótese de leitura consiste, na esteira da discussão aberta por Bariani, em pensar que a tradição poética, mormente aquela que, desde Baudelaire, denominamos como moderna, talvez represente um dos terrenos mais férteis para a compreensão das tensas, complexas, mas sempre ricas e significativas relações entre vida e mundo, entre perceber e habitar o mundo, entre compreendê-lo, pensá-lo e, a partir desse gesto, refunda-lo, numa experiência poética substantiva e singular. Assim, se o mundo é o cenário no qual se desenrola nossa existência, se só podemos apreendê-lo em função de nossas vivências, se as experiências constitutivas de nossa vida advêm do mundo que, por sua vez, não pode ser conceitualmente reduzido a um entendimento francamente objetivo, a poesia, por seu caráter imagético, que tende a refletir as coisas por meio da materialidade da linguagem, torna-se um dos instrumentos mais decisivos para pensarmos de que modo habitamos o mundo e ele nos habita, bem como a natureza de nossa existência dada no mundo.

      Márcio Thamos

      Professor Doutor na Faculdade de Ciências e Letras, Unesp, Campus de Araraquara.

      A vocação imagética da poesia

      Resumo: A linguagem artística está profundamente relacionada à capacidade de imaginação do espírito humano. Seja qual for o tema de sua obra, o pintor terá que decidir em minúcias de cores e formas como irá representá-lo na tela. Do mesmo modo, uma ideia, por mais geral, abstrata que seja, realiza-se literariamente através de uma representação concreta, particular, num contexto definido e único. O artista da palavra, em seu exercício lúdico de imaginação, lida com a linguagem a fim de dar a ver aquilo que deseja exprimir. Apresentando principalmente exemplos ligados à poesia da Roma Antiga, nesta fala, pretende-se explicitar até certo ponto a sintética afirmação de Octavio Paz, “El artista es creador de imágenes: poeta”.

      Marcos Siscar

      Professor Livre-docente do Departamento de Teoria Literária – Unicamp

      João Cabral e o Drama da Destinação

      Resumo: No conhecido ensaio “Poesia e composição”, a instância do destinatário é central para se entender a ênfase técnica dada por Cabral à questão da poesia: sem competência artesanal o poeta não é capaz de atender adequadamente à necessidade histórica de seu leitor. Os grandes momentos da tradição poética, segundo Cabral, são épocas em que os autores mostraram capacidade técnica e inventiva para atender a determinadas demandas sociais. Lida cronologicamente, a prosa crítica de Cabral expõe os pressupostos desse ethos poético e a maneira pela qual tal princípio ético paulatinamente se resolve na forma de uma estética particular e na forma de uma política literária relacionada à poesia no Brasil. Caberia recuperar essa instância da destinação e mostrar as dificuldades específicas às quais está confrontada na teoria poética de Cabral – não apenas quando se sobrepõe à ideia tradicional da autonomia da arte, mas igualmente quando perscruta a natureza do imperativo histórico que a justifica.

      Omar Khouri

      Graduado em História, pela FFLCH da USP, Mestre em ‘Comunicação e Semiótica: Literaturas’, pela PUC-SP e Doutor em ‘Comunicação e Semiótica: Artes’, pela PUC-SP Professor Livre-docente em ‘Teoria e Crítica da Arte’, pelo IA-UNESP e Pós-Doutor em ‘Belas Artes’, pela FBAUL (Portugal);
      Professor Adjunto aposentado do IA-UNESP, Departamento de Artes Plásticas e professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Artes, da mesma instituição.

      João Cabral e a visualidade

      Resumo: A visualidade em João Cabral perpassa a sua poesia: de uma ‘arquitetura do verso’ a referências a artistas plásticos cujas obras lhe eram caras, e adentra a fanopeia – “projeção de uma imagem na retina da mente”. Além do mais, o poeta é autor de texto propriamente metalinguístico importante sobre seu amigo Joan Miró. Esta fala procura tangenciar essas questões, e registrar algo de memorialismo.

      Pablo Simpson

      Doutor pela Unicamp, Pós-doutor pela Sorbonne Nouvelle/Usp e Professor do Departamento de Letras Modernas da Unesp/SJRP.

      Sobre “A bailarina” de João Cabral de Melo Neto

      Resumo: Esta apresentação tem como objetivo percorrer o poema “A bailarina” de João Cabral de Melo Neto, publicado em O Engenheiro (1942-1945). A leitura procurará explicitar alguns elementos e temas: as repetições, a metalinguagem, o sonho, os monstros, a imagem, a dança, o caçador, problematizando lugares da crítica do poeta, sobretudo a partir do ensaio dedicado a Joan Miró, com o qual apontou para espaços de criação, liberdade e aprendizado.

      Pedro Marques Neto

      Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

      João Cabral: o poema como um rio

      Resumo: A consciência da página como espaço de criação e leitura, a partir da massificação do livro impresso, também impacta João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Para além do poema curto ou médio enquadrado no retângulo da página, ele produziu textos extensos que parecem testar os limites editoriais. O cão sem plumas (1950), O rio (1953) e Morte e vida severina (1955), se narram trajetórias, têm suas formas distendidas como corpo poético em movimento. O poeta aciona uma tradição oral que tem por centro o cortejo. É o gesto poético-músico-coreográfico – chamado por Mario de Andrade de dança dramática, como a chegança e o congado – que em Cabral surge não como brinquedo coletivo, mas como passo individual. Apaga-se a festividade religiosa, amplifica-se o drama de ente natural, animal ou humano em movência e transformação. Cabral, ainda, cria uma espécie de curso estilístico, baseado antes na seletividade que na profusão de recursos linguísticos. Isso, de um lado, dá identidade ao trajeto, e de outro, aparta o cortejo de seus falares, cantares e dançares. Buscarei mostrar como tais poemas encenam o que é feito da palavra quando removida da arena performática.

      Solange Fiusa

      Doutora em Letras (Literatura Brasileira) pela UFRGS (2000), Docente na Universidade Federal de Goiás (UFG)

      João Cabral e os rastros de uma antologia não publicada

      Resumo: Em 1946, João Cabral organizou, a pedido de Jaime Cortesão, então exilado no Brasil e diretor literário da Editora Livros de Portugal, a antologia De António Nobre ao Saudosismo. Cabral realizou a seleção dos poetas, escreveu o prefácio e entregou a obra, que, entretanto, não chegou a ser publicada, porque, segundo ele, “a Livros de Portugal faliu”; razão que está ainda por esclarecer. Dessa seleta, consegui localizar apenas algumas referências em cartas e depoimentos e o prefácio, ainda inédito. Proponho apresentar os rastros dessa antologia não publicada considerando as relações de Cabral com a tradição poética portuguesa.

      Thiago Buoro

      É professor de língua portuguesa na rede municipal de ensino de Campinas, estado de SP, sediado na Nísia Floresta Brasileira, escola de Educação de Jovens e Adultos. No Campus da Unesp de Araraquara, cursou graduação em Letras e pós-graduação, mestrado e doutorado, em Estudos Literários. Defendeu em 2020 a tese de teor comparatista “A outra direção concretista: o espacialismo de Ilse e Pierre Garnier”. Interessa-se por poesias, teorias poéticas, cruzamentos de linguagens e relações entre palavra e imagem. No campo da criação, já escreveu em versos, compôs poemas visuais e realizou ações de Performance Art.

      Poesia Espacialista francesa: os microformatos

      Resumo: Idealizado pelos poetas Pierre Garnier e sua esposa Ilse, nos anos de 1960, o Espacialismo é o movimento literário francês que corresponde ao Concretismo brasileiro dos irmãos Campos e Décio Pignatari. No entanto, os poemas visuais criados pelo casal Garnier não obedecem aos mesmos princípios artísticos fortemente estabelecidos no cenário internacional pelos poetas brasileiros. Embora se apropriem das experiências inovadoras com a forma, esses poemas se distinguem desde o início por revelar qualidades líricas comuns a grande parte dos poemas em verso da tradição. Entre o verso e o visual, entre o tempo e o espaço, entre o linear e o simultâneo, entre o canto e a inscrição, entre a vanguarda e a tradição, o Espacialismo ocupa o lugar intermediário. E é seu caráter conciliatório mesmo uma das razões pelas quais oferece grande variedade de exemplos poemáticos. Esta comunicação pretende abordar um dos aspectos mais importantes da obra espacialista: a concisão. Na poética dos elementos mínimos, o branco da página possui grande poder significante e intervém efetivamente no poema, assim como o vazio e o silêncio se insinuam no horizonte de sentidos. Letras e signos escriturais são preferidos às frases e palavras completas. Os microformatos criam verdadeiros enigmas, mistérios particulares que surpreendem o leitor pouco iniciado nos caminhos dessa poesia.

      Waltencir Alves de Oliveira

      Doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada, pelo DTLLC/ FFLCH/ USP Professor Associado II, da área de Literatura Brasileira e Teoria Literária; do DELLIN (Departamento de Literatura e Linguística), da UFPR.

      João Cabral de Melo Neto, da fome e seu “batalhão de formigas”

      Resumo: A fome, a escassez e a ausência foram figuradas em muitas obras poéticas de João Cabral de Melo Neto. Pretende-se observar de que modo algumas analogias, que aproximam o abstrato e o concreto, possibilitaram ao poeta transpor os limites da simples tematização da fome, tornando-a não só um tema do qual se trata, mas também um princípio regulador da construção da imagem poética. Convertendo, por fim, a escassez em ideal de desbaste da linguagem que se formaliza no poema. A partir da análise de um trecho de O cão sem plumas, de 1950, objetiva-se avaliar alguns aspectos não só da lógica de composição desse livro, mas também de alguns poemas que integram outras obras do poeta.

      RESUMO SESSÕES DE COMUNICAÇÃO 1° EIP

      POESIA COM NOTA DE RODAPÉ

      Ana Cecilia Agua de Melo

       

      Lu Menezes vem, desde 1980, fazendo um percurso discreto, mas ponderável e consistente. Em 2011, veio a lume Onde o céu descasca, sua terceira coletânea de poemas, a primeira que se seguiu à conclusão de sua tese de doutoramento, uma análise comparativa entre as obras do norte-americano Wallace Stevens e de João Cabral. (Como muitos de nossos poetas hoje, Lu Menezes se desdobra em pesquisadora universitária.) A alta qualidade da fatura e da reflexão em seus textos, no entanto, ainda está a pedir maior exame. Nosso intuito é investigar como o duplo estatuto de criador/pesquisador se faz sentir na arquitetura do livro (incluindo seus paratextos) e num poema em especial, “Escafandro para Narciso”. No que se refere aos paratextos, destacam-se a orelha assinada pela própria autora e, ao fim do volume, as Notas que esclarecem sobre a publicação original de alguns dos poemas e explicitam referências bibliográficas — como ocorre nos trabalhos acadêmicos. Se, na orelha, Lu Menezes dispensa a legitimação de pares ou de críticos, nas Notas ela faz uma mesura à disciplina da produção universitária. Tal vizinhança entre o efeito de espontaneidade e a mediação erudita ecoa nos poemas, nos quais a escuta à maneira de Francisco Alvim convive com a alusão a autores de prestígio. Nos dois casos, trata-se, naturalmente, de práticas de citação. Sendo assim, nos perguntamos como esses dois níveis de apropriação — das falas colhidas na perambulação do sujeito lírico e dos fragmentos de obras consagradas — dialogam e se contaminam. Pretende-se aliar, ao primordial cuidado com as peculiaridades do objeto, uma atenção às linhagens da poesia brasileira dos anos 1970 aos dias atuais (período que corresponde à trajetória da autora), tais como debatidas, antes, por Cacaso e, mais recentemente, por Iumna Maria Simon.

      Palavras–chave: Literatura brasileira. Poesia contemporânea. Lu Menezes.

       

      O RITMO CIRCULAR: UM PRINCÍPIO ESTRUTURAL E TEMÁTICO NA FICÇÃO BORGIANA

      Ana Claudia Rodrigues

       

      Mediante o vislumbre de que as mínimas coisas sejam artifícios secretos das maiores, busca-se, nesta apresentação, uma leitura acerca do conto “Tema do traidor e do herói”, do livro Ficciones (1944), de Jorge Luis Borges. O conto narra a busca de um indivíduo por sua gênese biográfica, e, à medida que se aprofunda nas investigações, descobre que o seu ancestral, o aclamado herói, era um traidor, o qual, sob o impacto da encenação das peças de Shakespeare, erige fama e imortaliza o nome, contanto que fosse morto, mas isso não era problema, uma vez que preferiria a morte com o título de herói a viver a longevidade no esquecimento. De forma paralela, a partir dessa busca identitária nos meandros do conto, procura-se, à luz dessa leitura, tanto no âmbito universal do indivíduo, como no da criação literária, uma história maior ou arquetípica do mito da busca. No caso presente, a façanha dessa busca é referência direta ou indireta a outros textos, confirmando o que para Borges seria o tempo circular ou a memória literária. Mas é evidente que desse círculo temporal, o autor intui um ritmo poético, afinal, a história volta sem a pressa cronológica, mas com o afinco da repetição reveladora dos gêneros literários. Da tragédia de Shakespeare, que, evidentemente, perpassa a tragédia grega, aos poemas de Homero, cujo tema concernente ao herói diante do impasse entre a fama e a vida, é visto tanto na Ilíada como na Odisseia, soma-se a poesia na estrutura da criação, garantindo que a arte poética faça parte da trama da prosa, no seu ir e vir de criar e recriar. Assim, partindo-se de uma teoria que abarque a questão de que a criação literária seja original na forma, mas sob o impacto da tradição ou da memória, pretende-se extrair que a história do conto de Borges seria a história de um tema ancestral da literatura, cujo ritmo poético constataria que um homem seria todos os outros: aquele que foi, aquele que é, e, ad infinitum, aquele que está por vir.

      Palavras–chave: Borges. Conto. Tempo circular. Ritmo poético.

       

      DANTAS MOTA: ENTRE A PAISAGEM E A POESIA

      Ana Elisa Tonetti de Almeida

       

      Este trabalho tem como objeto o poema “Paisagem do homem e do túmulo”, publicado no livro Planície dos Mortos (1936-1944) do mineiro Dantas Mota, levando em consideração a comunicação, por meio de cartas, que o referido poeta estabeleceu com o modernista Mário de Andrade. Pretende-se em analisar de que forma o diálogo estabelecido por Dantas e Mário influenciou na construção da paisagem poética do poema em questão. Sendo o poema um questionamento diante da existência humana, ele se constrói a partir da dualidade vida e túmulo, o eu lírico de “Paisagem do homem e do túmulo” está posicionado exatamente entre a vida que é vivida e o fim da vida, marcado pela morte, com isso, o espaço que o rodeia refletirá essa questão existencialista. A paisagem que vai sendo formada pela visão do eu lírico, com elementos que integram a vida e a morte; é a paisagem que forma o homem, capaz de ver, e, ao mesmo tempo, a paisagem do túmulo, aquilo que é visto, interligando ambos à planície. O aporte teórico constitui-se por obras como Poética e filosofia da paisagem (2013), em que o crítico Michel Collot apresenta a definição de paisagem atrelada a percepção de um espaço sobre um ponto de vista; para o estudo das cartas utilizaremos conceitos da crítica genética como a obra Escrever sobre escrever: uma introdução crítica à crítica genética (2007); além das obras que dão base ao estudo de poesia, como O arco e a lira (1982).

      Palavras-chave: Literatura Brasileira. Poesia. Mário de Andrade. Dantas Mota.

       

      MINHA PÁTRIA É MEU FILHO E MINHA BIBLIOTECA:  

      A POESIA RESPONSIVA DE ROBERTO BOLAÑO 

       André Carneiro Ramos

       

      Trataremos de La universidad desconocida (2007), obra que reúne a poesia de Roberto Bolaño (1953-2003), venerado romancista de Los detectives salvajes (1998), especificamente nas primeiras sete seções, anunciadoras já de sua visceral escrita, contemplando os anos de 1978 a 1981. Ao abordarmos esse modo inaugural seu, de inserção no hipercontemporâneo (ARNAUT, 2016), numa busca autoral por novas epistemologias – que pudessem conferir materialidade à noção iconoclasta de resistência, propagada pela literatura latino-americana –, descobre-se um jovem Bolaño de origem chilena e inquieta (características que muito lhe consubstanciariam, enquanto vate transgressor), e que logo seria transportado a um México poeticamente em ebulição, lugar a ser conquistado/explorado por ele sob o alicerce de uma ávida experiência leitora. A partir daí, ocorre sua preparação para um enfrentamento com a Europa, paisagem inicialmente fechada (conectada às metáforas poéticas de “pesadelo” e “Inferno”), mas que não deixaria de se lhe ofertar igualmente à exploração/conquista. Não obstante, toda uma “desfiguração” da tradição em Bolaño assim se coadunaria, em certa medida, à filosofia do ato responsivo de Bakhtin (1986), que tem o ser humano como centro de “valor”, em consonância com uma significativa cotidianidade aliada a um amplo universo estético. Na escrita do autor de 2666 (2004), tais relações se evidenciariam através de uma nítida confluência entre ética e arte, numa atitude criadora em que o autor, respondendo ao urgente chamado da existência, construiria provocativas e poéticas imagens. É nesse sentido que o conceito bakhtiniano de arquitetônica textual se estabelece, demarcando inquietudes no leitor atento (conectado à vida), instigando-lhe uma apreciação ainda mais ampla de “humanidade” agregada à obra de arte (aqui, no caso, a poesia), ao mesmo tempo respondendo/provocando esse chamado, num convite às possibilidades plurais de entendimento/mudança. Como se verificará, toda essa responsividade é o prenúncio do dialogismo bakhtiniano, perceptível em todas as interrelações verificadas. Na poesia inicial de Roberto Bolaño, portanto, nota-se a presença de uma impúbere e ao mesmo tempo diligente lucidez metapoética, crucial na valorização do exercício de uma constante leitura na formação de qualquer escritor, algo que se manteria incorporada ao seu dizer autoral, agudo e não-indiferente, resultante de dialógicas relações (SOBRAL, 2019), que só se adensariam (especialmente na escrita de seus futuros romances) no pacto firmado por esse escritor incontornável, que não se contentava em reproduzir tradições, mas as colocava em xeque, questionando estigmas ao abrir espaços para a vigência de uma “desconhecida universidade”; uma das constatações é a de que, a partir das próprias experiências, Bolaño substancialmente se formou e se consagrou, por intermédio de todas essas mútuas e iluminadas trocas, a que também chamamos literatura. Além dos mencionados Ana Paula Arnaut, Mikhail Bakhtin e Adail Sobral, utilizaremos como aporte teórico Augusta López Bernasocchi & José Manuel López de Abiaba (org., 2012), Alfredo Bosi (2000), Byung-Chul Han (2019), Martin Heidegger (2010) e Valentin Volóchinov (2019).

      Palavras-chave: Ato responsivo. Mikhail Bakhtin. Metapoesia. Roberto Bolaño. Literatura Latino-americana.

       

      FRAGMENTAÇÕES E DISSONÂNCIAS DO EU LÍRICO NA OBRA POÉTICA DE RIMBAUD E JULES LAFORGUE

      Andressa Cristina de Oliveira

       

      Sabe-se, de acordo com Friedrich (1960), que a lírica do século XIX não é de fácil acesso, pois, pelo fato de ter sido uma reação ao mundo modernizado, geralmente é obscura, enigmática, fragmentada. Isso acarreta fascínio no leitor, ao mesmo tempo em que gera uma tensão dissonante, tendo em vista a perturbação, a inquietação e a dúvida causadas por tais tipos de obras poéticas. Encontram-se tais características nas obras dos poetas franceses A. Rimbaud e Jules Laforgue, contudo, de formas distintas. O primeiro é um rebelde que recusa totalmente a tradição, colocando a ideia de mergulhar no desconhecido, no novo, na ruptura com o passado, como palavras de ordem. Já Jules Laforgue, por ter, segundo Wilson (2004), se servido da técnica irônico-pungente, gírio-pomposa, chulo-ingênua e se situado fora do círculo exclusivista da linha “sério-estética” do Simbolismo, fazendo parte daquela que seria uma espécie de “prima pobre”, recessiva e desprezada, concebe sua obra poética usando seu conhecimento de mundo, suas leituras e sua criatividade, com o intuito de criar o novo, no sentido baudelairiano, segundo Friedrich (1991), reunindo gênio poético, inteligência crítica, dissonância, idealidade vazia, fantasia criativa e deformação. Conforme exposto acima, pretende-se demonstrar, aqui, de forma breve, a presença da fragmentação do eu e da dissonância em alguns poemas das obras Une saison en enfer, de A. Rimbaud, e Le sanglot de la Terre, de Jules Laforgue.

      Palavras-chave: Rimbaud. Jules Laforgue. Modernidade. Literatura Francesa.

       

       

      AS FORMAS DA MUSA: AS POÉTICAS DE PAUL VERLAINE

      Cristovam Bruno Gomes Cavalcante

       

      Em Poèmes Saturniens (1866), obra oficial de estreia do poeta Paul Verlaine (1844 – 1896), deixa-se evidente a posição do poeta francês frente aos questionamentos sempre em voga sobre a função do poeta na sociedade. Verlaine apoia-se na famosa defesa do autotelismo poético, o que o descompromissa do debate a respeito das demandas sociais contemporâneas a si, ao passo que sua arte se liberta para um sentido de busca e de captação exclusiva do Belo. A propósito da busca pelo sentimento do Belo, o formalismo e a vontade são exaltados em Poèmes Saturniens, ao passo que a inspiração e a imprecisão são reiteradamente depreciadas, sobretudo no poema “Epilogue”, o que reforça a tentativa de filiação do jovem Verlaine aos prestigiados autores que formam a base da revista Le Parnasse contemporain. Em contrapartida, esse mesmo poeta, que inicialmente prega a supremacia da precisão e da vontade, é o sempre lembrado poeta da evanescência, o da imprecisão, o do verso ímpar, o da musicalidade, o do embate contra a eloquência, prescrições essas que foram expressas em “Art Poétique”, poema escrito em 1874, mas que foi publicado em 1882 e que apenas foi reunido em livro em 1884, em Jadis et Naguère. Diante da possível indistinção ou confusão a respeito de qual seriam os pressupostos e de qual seria a cronologia da(s) poética(s) desse autor, objetiva-se com este trabalho dissertar sobre quais entendimentos poéticos se alteraram e sobre quais concepções permaneceram as mesmas em suas obras, de modo a traçar e a oferecer um panorama geral dessas mudanças, levando em consideração a repercussão das estéticas romântica, parnasiana, decadentista e simbolista na sua produção. Para isso, além da utilização da fortuna crítica do autor, este trabalho vale-se das obras Parnasse et Symbolisme, de Pierre Martino, La herencia del Simbolismo, de Bowra, Panorama du XIXème siècle français, de Robichez, e Doctrine Symboliste e Message poétique du Symbolisme, de Guy Michaud.

      Palavras–chave: Poesia francesa. Arte poética. Paul Verlaine. Vontade. Inspiração.

       

      VERSOS DE UM DESTERRADO: SAUDADE DA PÁTRIA E PERSEGUIÇÃO POLÍTICA NOS POEMAS HUGOANOS

      Daniela Mantarro Callipo

       

      Victor Hugo compôs canções desde muito jovem; nas Odes, elas surgem timidamente, ainda muito longas em meio ao tom solene e austero da coletânea; já nas Ballades aparecem os versos de três e cinco sílabas, o uso de refrões e a repetição de versos, o que leva a um jogo rítmico e ecos sonoros. A partir de então, elas estarão presentes em toda sua obra, caracterizadas por dísticos, estribilhos, versos curtos que se fixam na memória do leitor. Segundo Buffard-Moret (2005) Hugo mistura os estilos dos trovadores do século XVI e de seus contemporâneos, tomando de empréstimo somente o que lhe parece ser uma velha canção popular e possa transmitir algo de familiar e lírico, com um estilo simples, mas de métrica complexa. Duas canções de Victor Hugo escritas durante seu longo desterro, no entanto, fogem um pouco às regras aplicadas ao gênero, pois elas contêm não apenas um lamento, mas uma mensagem política e um protesto. O intuito aqui é analisá-las, pois versam sobre o mesmo tema: o exílio. Escritas entre 1853 e 1854, elas descrevem a saudade da pátria, a dificuldade de se sobreviver longe da família e do trabalho e fazem uma crítica ao governo autoritário de Luís Napoleão, buscando despertar a consciência do povo francês.

      Palavras–chave: Poesia hugoana. Exílio. Canções. Nostalgia. Perseguição política.

       

      POESIA ENGAJADA NA LITERATURA CAXIENSE

      Delcio Antônio Agliardi

       

      Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa com o objetivo de investigar a poesia de escritores do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul no período de 1967 a 2017. O Concurso foi criado em 1967 e, a exemplo do Prêmio Jabuti (1958); Prêmio Açorianos (1977); e São Paulo de Literatura (2008), confere valor à criação e circulação de obras e seus autores. Os Prêmios e os Concursos literários podem ser um excelente estímulo para o desenvolvimento da literatura e geração de valor artístico para novos e experientes escritores. De modo geral, essas iniciativas contribuem para a difusão e reputação de um autor e de sua produção artística. Partindo do pressuposto de que a poesia é atravessada pelo contexto de cada época história e que os escritores são influenciados pela produção literária nacional, o problema estudado mantém relação estreita com a sociedade da segunda metade do século passado. Assim como fizeram Gullar, Drummond e Cabral, os poetas locais questionam a realidade, as angústias humanas, as formas de exclusão social e o poder político. De cunho crítico, a poesia engajada dos escritores do Concurso aborda assuntos políticos e sociais. Tem suporte metodológico, para a construção dos dados empíricos, a Análise de Conteúdo e utiliza como referência a amostra dos poemas premiados e publicados nas antologias do Concurso, com sustentação teórico-metodológica em Bauer (2015). Portanto, a metodologia busca favorecer a construção dos resultados de investigação, pautada por critérios de inclusão e exclusão dos dados empíricos. A codificação e a categorização são recursos de pesquisa que contribuem enquanto possibilidade de análise dos temas. A abordagem teórica está pautada nos pressupostos teóricos da Análise de Conteúdo (BAUER, 2015), em diálogo com Literatura e Sociedade (CANDIDO, 2011; 2014), sob a luz da tradição moderna do poeta-crítico. Para Bauer (2015) textos são escritos para um propósito e Candido (2011, 2014) analisa as relações entre literatura e vida social.

      Palavras–chave: Poesia engajada. Poeta-crítico. Análise de conteúdo.

       

      EISENSTEIN, PÚCHKIN E O PODER DAS IMAGENS

      Erivoneide Marlene de Barros Pereira

       

      Haroldo de Campos, no artigo “A poesia da gramática”, ao comentar sobre o desafio de traduzir algumas estrofes do poema “Evguiéni Oniéguin”, de Aleksandr Púchkin, destaca o uso da logopeia como uma “qualidade distintiva” da obra do poeta russo. Haroldo ainda cita os estudos de Roman Jakobson acerca da poesia de Púchkin em que é destacado o uso sintático do paralelismo e do contraste como elemento central da composição puchikiniana. Seu rigor composicional e a construção de imagem a partir da estrutura da obra são aspectos que também foram analisados pelo cineasta Serguei Eisenstein a fim de compreender a expressividade da forma artística. Segundo Eisenstein, no livro “O sentido do filme”, há uma natureza cinematográfica da escrita de Púchkin que necessitava ser compreendida pelos diretores, por se tratar de “[…] um modelo de expressividade” conseguido “[…]através de um puro método de montagem e com meios de pura montagem”. Com base em seus estudos sobre a montagem, Eisenstein defenderá que o poeta russo cria imagens que não são vistas, mas sentidas. Desse modo, a força da composição artística em Púchkin está no movimento expressivo de seus versos, gerado pelo meticuloso ato de relacionar forma e conteúdo. Em certa medida, essa proposta de leitura se aproxima dos estudos atuais de W. J. T. Mitchell, discutidos no ensaio “O que as imagens realmente querem?”, ao afirmar que as imagens querem “uma visualidade adequada a sua ontologia”. Ou seja, nessa perspectiva, a imagem apresenta características que não estão restritas à referencialidade. É intuito desta comunicação propor uma discussão interartística entre poesia e cinema a fim de analisar o complexo processo de construção da imagem artística. A partir de textos selecionados de Eisenstein sobre algumas obras poéticas específicas de Púchkin, discutiremos o conceito de obráznost (imagicidade) e a sua pertinência no diálogo com os estudos de Mitchell sobre o poder da imagem.

      Palavras–chave: Estudos Interartes. Eisenstein. Púchkin.

       

      LUIZ BACELLAR, LEITOR DE JOÃO CABRAL

      Fabio Fadul de Moura

       

      A pesquisa que se apresenta é resultado parcial das investigações de doutorado em andamento sobre a poesia de Luiz Bacellar. Iniciada com Frauta de barro (1963), o poeta ofereceu uma colaboração sólida à literatura brasileira. O debate crítico ao redor de seus textos aponta o diálogo com a poesia de João Cabral de Melo Neto no momento em se refere ao livro lançado dez anos mais tarde. Trata-se de Sol de feira (1973), sobre o qual se debruçam dois críticos: o primeiro, Marcos Frederico Krüger (1998), que realiza uma comparação entre esse e o livro A educação pela pedra (1965); e o segundo, Benedito Nunes (2005), que sugere com agudeza o poema “Jogos frutais”, de Terceira feira (1961), como mote a ser recuperado e desenvolvido por Bacellar à sua maneira também em Sol de feira. Em ambas as análises propostas, os críticos não levam em consideração que a presença cabralina na obra de Luiz Bacellar é anterior e já aparece em Frauta de barro. Neste trabalho, caberá ao pesquisador a proposta de apresentação da presença de Cabral primeiramente na crítica e, em seguida, nos poemas do autor amazonense, tentando explicitar os modos com que esse se apropria daquele. O objetivo desse exercício de análise de poesia é demonstrar que o processo de escritura de um autor passa pela composição de um repertório, isto é, dá-se pela leitura que o poeta faz de outros escritores, como já foi proposto por T.S. Eliot (1989), ao passo que elabora um processo similar ao de construção de uma coleção, de acordo com a análise de Ivette Sánchez (1999). Tomada a leitura como um gesto colecionador, ela se torna um jogo entre aproximações possíveis apesar das dessemelhanças justapostas. Assim, esse jogo é responsável pela transformação do elemento capturado em novo no segundo contexto. Por fim, procura-se colocar na ordem do dia um autor que ainda é pouco conhecido pela crítica brasileira, de sorte a ensejar novos diálogos comparativos.

      Palavras–chave: Poesia brasileira do século XX. Coleção. Leitura. Luiz Bacellar. João Cabral de Melo Neto.

       

      A RELAÇÃO ENTRE METRÓPOLE E O EU POÉTICO NEGRO NA POESIA DE PAULO COLINA

      Fernanda Scheluchuak Dias

       

      Paulo Colina, um dos fundadores do Grupo Quilombhoje (1980), foi um poeta militante engajado na afirmação da existência de uma literatura negra brasileira. Participante da série Cadernos Negros (1978), Colina buscava pensar em como a figura do negro era retratada no universo literário, promovendo estudos e problemáticas sobre a experiência do leitor, apagamento da voz negra em relação a sua subjetividade e inviabilização de autores negros, o que evidencia a importância da análise de seus escritos. O presente trabalho tem como objetivo apresentar aspectos da literatura negra, a relação entre o eu-lírico negro em sua poesia e o espaço no qual ele está inserido, São Paulo. Esta, por sua vez, é um elemento importante na poesia de Colina, pois é neste ambiente hostil que se acentuam experiências particulares do povo negro, como a solidão, o racismo e a marginalização daqueles que foram historicamente excluídos e silenciados pelo sistema dominante. Neste sentido, os textos teóricos abrangem autorias de Cuti, Domício Proença Filho, Frantz Fanon e Oswaldo de Camargo, que debatem identidade e literatura negra. O corpus para a análise crítica, proposta por Antonio Candido, é composto de dois (2) poemas: “Pressentimento”, de A noite não pede licença (1987), e “Perspectiva”, de Todo o fogo da luta (1989). A escolha desses poemas é justificada pela menção e/ou tematização do espaço da cidade de São Paulo, onde o eu poético versa sua visão e trajetória como homem negro diante da metrópole multifacetada. As perspectivas do eu-lírico se alinham concomitantemente com o que a cidade oferece: a constante lembrança de seu exílio forçado diante do finito tráfego urbano; a sua complexa emancipação, que após 131 anos da abolição da escravatura, não o deixa transitar despercebido pela cidade, e a eterna luta para poder sobreviver no mercado de trabalho, no desejo um dia poder experienciar a liberdade de forma integral.

      Palavras–chave: Paulo Colina. Literatura negro-brasileira. Poesia contemporânea. São Paulo.

       

       

      OS NATAIS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: ENTRE A POESIA E A PROSA

      Gustavo de Mello Sá Carvalho Ribeiro

       

      É difícil definir a palavra “poesia” de modo objetivo, uma vez que o termo está sempre em transformação. Sabe-se, porém, que ela se manifesta de formas diversas: em verso, em prosa, em narrativas e em descrições. Há uma linguagem própria da poesia, portanto, que não depende necessariamente de ser expressa em um texto versificado. Essa questão fica evidente na vasta obra do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, cuja produção ostenta diferentes formas poéticas. Levando isso em consideração, objetiva-se verificar, por meio de metodologia comparativa, como a linguagem da poesia drummondiana é manifestada em verso e em prosa em dois textos que representam o mesmo tema, uma noite de Natal: “O que fizeram do Natal” e “Presépio”. O primeiro é poema em versos livres do livro de estreia, Alguma poesia de 1930; o segundo, um conto de Contos de aprendiz, publicado em 1951. Para que tal comparação seja possível, valemo-nos do seguinte embasamento teórico: a) sobre teoria e linguagem da poesia, De poesia e de poetas de T. S. Eliot e O ser e o tempo da poesia de Alfredo Bosi; b) sobre relações entre poesia e prosa, “O concerto dissonante da modernidade: narrativa poética e poesia em prosa” de Antônio Donizeti Pires; c) sobre literatura comparada, uma vez que abordaremos textos de gêneros distintos, “A literatura comparada” também de Antônio Donizeti Pires; d) sobre Carlos Drummond de Andrade, Drummond: estilística da repetição de Gilberto Mendonça Teles, No vasto mundo de Drummond de Letícia Malard, “Inquietudes na poesia de Drummond” de Antonio Candido e “Um Drummond insuspeitado?” de Ana Paula Pacheco.

      Palavras–chave: Poesia e prosa. Linguagem da poesia. Formas da poesia. Carlos Drummond de Andrade.

       

       

      INTERTEXTUALIDADE E LITERATURA POPULAR EM SILVESTRE, DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO

      Heloísa Helena Ribeiro

       

      A presente comunicação se volta à relação intertextual entre o filme Silvestre (1981), de João César Monteiro, e a cantiga popular portuguesa “La Laranja”. João César Monteiro produziu filmes entre 1972 e 2003, e sua obra apresenta relações intertextuais com outras artes como a literatura popular, as artes plásticas e a música clássica. O cineasta trabalhou com metacinema, produzindo filmes que expõem a artificialidade do cinema, com cenários exteriores e interiores, paisagens e elementos do décor pintados em imagens de duas dimensões (Silvestre, O Amor das Três Romãs), entre outros recursos. Além disso, João César Monteiro produziu filmes voltados às palavras, com roteiros de aspecto poético. Sua produção culmina em Branca de Neve (2000), penúltimo longa-metragem do cineasta, em que o enredo se desenrola apenas com diálogos em uma tela escura. Em Silvestre, a protagonista Sílvia une os intertextos “A mão do finado” e “Donzela que vai à guerra”, que compõem o enredo fílmico. Outros intertextos aparecem no filme e se relacionam com a narrativa principal, como a cantiga das malhas “La Laranja”, que era entoada por trabalhadores braçais, enquanto debulhavam o milho. Na cantiga, o eu lírico narra como uma moura é sequestrada por um grupo de pessoas. A história da cantiga se passa na Idade Média, período em que os muçulmanos foram escravizados no território Português (entre séculos XI-XV). Em Silvestre, a cantiga se relaciona com o intertexto “A mão do finado” e é entoada por uma voz em Over, ou seja, por uma voz que não está presente na cena e que não é dos personagens do filme, enquanto a protagonista e sua irmã dormem. Nessa comunicação, propõe-se analisar “La Laranja” e como se dá sua transposição para o filme, além das relações entre os intertextos “A mão do finado” e “La Laranja” na composição do enredo de Silvestre. Serão consideradas as obras sobre intertextualidade de Genette, em Palimpsestos: A literatura de segunda mão (2010), Compagnon, em O trabalho da citação (1996), e Hutcheon, em Poética do Pós Modernismo: história, teoria, ficção (1999), além dos estudos sobre o cinema de Marcel Martin, em A linguagem Cinematográfica (1963), e dos estudos sobre o cinema português de Leonor Areal, em Cinema português: Um país Imaginado (2011), e de Tiago Baptista, em A invenção do cinema português (2008).

      Palavras–chave: Intertextualidade. Cinema. Poesia. Literatura Popular.

       

      O “NAUFRÁGIO” DE VERUNSCHK: DA PÁGINA EM BRANCO AO MERGULHO NAS PALAVRAS

      Isabela Araújo Moraes

      Lígia de Medeiros Nogueira

       

      O presente estudo pertence ao eixo temático de poesia moderna e contemporânea, visto que ele tratará de um poema da autora contemporânea Micheliny Verunschk. O centro dessa pesquisa reside em uma hipótese de leitura do poema “Naufrágio”, publicado no livro Geografia íntima do deserto, de 2003. De acordo com essa hipótese, o poema teria uma segunda camada de sentido, metapóetica, que se relacionaria com o processo de escrita de um poeta. Tal leitura está ancorada na temática superficial do naufrágio, pois as imagens criadas nessa primeira camada de sentido permitem que o tema do processo criativo de um escritor venha à tona. Assim, o objetivo central deste trabalho é elucidar a presença de uma outra possibilidade de leitura. Isso será feito por meio da compreensão da imagem poética superficial do poema, pela observação da estrutura da poesia em questão e pela recuperação de referências pessoais da autora, obtidas em entrevistas a portais on-line e em artigos relacionados à Micheliny. Para alcançar o que é proposto, foi utilizada a metodologia exposta – e aplicada – por Antonio Candido no livro Estudo analítico do poema, de 1987. Esse método consiste em dividir o estudo do poema em três etapas, a saber comentário, uma reunião de dados sobre o(a) poeta e sua obra, análise, voltada para a estrutura e a forma do poema, e interpretação, que intersecciona os dados pertinentes obtidos no comentário, as informações relevantes levantadas na análise e a leitura feita pelo pesquisador, que também está imbuída das referências desse leitor. Como base teórica para esta pesquisa, usaram-se autores que se preocuparam com a formação, recepção e papel da imagem poética; tais autores seriam Alfredo Bosi em O ser e o tempo da poesia (2000), Octavio Paz em O arco e a lira (1982), Geir Campos em Pequeno dicionário de arte poética (1960) e Viktor Chklovski em Teoria da literatura: formalistas russos (1978).

      Palavras–chave: Micheliny Verunschk. Interpretação de poema. Metapoética. Imagem poética. Poesia contemporânea.

       

      O PODER TRANSGRESSOR DA POESIA – CONSIDERAÇÕES SOBRE LINGUAGEM E SIMBOLOGIA

      Karen Katiúcia Oliveira Leite

       

      O que se propõe com esse trabalho é uma análise reflexiva do poema “Pretei”, presente no livro Terra negra (2017) de Cristiane Sobral, que permite-nos refletir acerca dos neologismos sintáticos pejorativos em relação à população negra e que são veiculados na sociedade contemporânea. Neste sentido, observa-se-á como a poeta rasura os discursos racistas, bem como os preconceitos raciais alicerçados na linguagem desde o período colonial. Tal estudo baseia-se em uma pesquisa bibliográfica, construída a partir da análise do referido poema, que além da beleza estética, apresenta traços de um discurso de resistência capaz de desconstruir estereótipos amalgamados na literatura canônica. Em se tratando de uma voz que ecoa poeticamente para rasurar e combater tessituras preconceituosas, Cristiane Sobral é uma poeta que não economiza tinta para ferir o machismo e o racismo. É escritora, poeta, atriz, diretora, professora de teatro, carioca e vive em Brasília desde 1990. A análise do poema proposto está pautada nos estudos de literatura e sociedade, tendo em vista os estudos gênero na literatura negro-brasileira. Assim sendo, as principais teorias utilizadas para construção deste texto contemplam a representação da mulher negra na literatura. Quanto ao aspecto metodológico, este estudo tem como base uma pesquisa de cunho bibliográfico, pois sua elaboração é baseada em materiais já elaborados e publicados, como livros, artigos e textos críticos. Como suporte teórico, buscou-se os preceitos de Zahidé Muzart (1995), Eduardo de Assis Duarte (2011), Zilá Bernd (1988), Regina Dalcastagnè (2005), Miriam Alves (2010), entre outros. Esta proposta se vincula a uma pesquisa mais ampla, no âmbito do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras / Estudos Literários da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), em que se investigou a representação da mulher negra nas obras de poesia da escritora Cristiane Sobral, buscando refletir acerca da utilização da palavra como um mecanismo de ressignificação da mulher negra, a partir da escrita subjetiva.

      Palavras-chave: Mulher. Poesia. Resistência. Ressignificação.

       

      A VARIANTE RÍTMICA NA CONSTRUÇÃO DO CARÁTER METAPOÉTICO EM “g”

      Laís Fernanda Espinosa Pereira

      Laura Saconato Tadeu

      Raphaela Pestana

       

      A consideração do eixo temático poesia moderna e contemporânea permite apreciar obras de modo a compreender a construção e a valoração poéticas, ou ainda o estabelecimento de relações entre a poesia da tradição e a do tempo presente. Entre os poetas brasileiros, pode-se destacar a pernambucana Micheliny Verunschk, escritora contemporânea que em sua poesia dialoga assumidamente com a estética de João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen (VERUNSCHK, 2010). Em parte de seus poemas, Verunschk revela a presença de um eu lírico descentralizado (SANTANA, 2019) e constrói um lirismo pautado em imagens e metáforas que se unem para significar em um todo (ROSSI; GRÁCIA-RODRIGUES, 2016). Discípula de uma tradição que valoriza a poesia falada (VERUNSCHK, 2008), sua obra é rica em elementos rítmicos que exercem papel fundamental na criação e na interpretação do texto poético. Desse modo, o poema “g”, publicado em Geografia Íntima do Deserto (2003), aponta para uma problemática central na produção da autora: o desenvolvimento da metapoesia a partir do trabalho com os aspectos formais do poema, tais como rimas, repetições e disposição dos versos, que compõem a sonoridade e a oralidade do texto.  À vista disso, propõe-se uma leitura crítica de “g” que considere a construção rítmica e imagética no poema, por meio da qual se estabelece a metalinguagem. Busca-se compreender, assim, como os recursos rítmicos levantados pela poeta atuam na elaboração temática da metalinguagem, abarcando, ainda, o diálogo com a tradição, sobretudo a de João Cabral. Utiliza-se nesse estudo a metodologia proposta por Antonio Candido – em O estudo analítico do poema (2004) – contemplando comentário, análise e interpretação. Vale-se de leituras teórico-críticas a respeito da tradição retomada por Verunschk e da estrutura rítmica do poema (Édila Santana; Érica Alves Rossi e Kelcilene Grácia-Rodrigues; Octavio Paz e Cavalcanti Proença), além da dissertação da autora – também crítica de poesia -, a fim de promover uma apreciação de “g” que considere a indissociabilidade entre forma e conteúdo poéticos.

      PALAVRAS-CHAVE: Poesia contemporânea. Metalinguagem. Ritmo. Micheliny Verunschk.

       

      “SAPO-CURURU”: A FORMAÇÃO DO CIDADÃO

      Larissa Fernanda Steinle

       

      Em 1922 aconteceu em São Paulo a Semana de Arte Moderna, momento em que artistas como, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos expunham suas obras para a sociedade paulista pela primeira vez. O movimento artístico nascido naquele momento propôs uma literatura essencialmente brasileira, com predileção pela linguagem do “[…] bom negro e o bom branco/ Da Nação Brasileira”, conforme Oswald de Andrade, bem como a exaltação da sonoridade da língua portuguesa que possui o “admirabilíssimo ‘ão’”, proclamado por Mário de Andrade em seu Prefácio Interessantíssimo. Na obra de Manuel Bandeira esses dois traços são bastante presentes no resgate constante das formas de manifestação popular, como cantigas, orações, adivinhações, cantos de Natal. “Sapo-cururu”, poema que nos propomos estudar durante essa comunicação, é composto pela combinação de versos da cantiga popular que lhe dá nome com a ironia característica desse poeta, elemento que ali se encontra em abundância, uma vez que o texto escolhido contará o processo de conquista de posição de poder por um sapo. Sendo assim, propomos uma leitura rítmica deste poema, com o objetivo de melhor compreender como os elementos populares são incorporados à obra de Bandeira e demonstrar as relações estabelecidas entre os níveis rítmico e semântico da obra em questão. Para tanto, fundamentaremos o método de análise rítmica nos estudos de Antonio Candido, registrados na obra O estudo analítico do poema, considerando os diversos recursos relacionados ao nível sonoro do poema, tais quais rimas, assonâncias e aliterações, tonicidade, pausas, cesuras, elementos constitutivos do ritmo. Após descrição e análise desses elementos, a obra Seis lições sobre o som e o sentido, de Roman Jakobson, fundamentará o estudo das funções dos elementos sonoros, considerando os estudos fonológicos jakobsoniano e suas contribuições para a análise rítmica do poema.

      Palavras–chave: Manuel Bandeira. Ritmo. Poesia modernista. Literatura popular. Sapo cururu.

       

      R(AB)ISCOS: A POESIA QUE ESCORRE DA PENA DE CUMMINGS E DO PINCEL DE LEONILSON

      Laura Moreira Teixeira

       

      Jean-Luc Nancy afirmou que a caracterização do discurso poético se pauta no desencontro, na fuga e no deslizamento entre a prática dos artistas no que concerne à criação de obras e os discursos teóricos propostos pelos estudiosos. A partir de tal afirmativa, o presente trabalho busca observar como obras pertencentes ao universo da poesia visual e das artes plásticas que se utilizam da palavra se comportam frente a tentativa de caracterização do gênero poético. Durante um longo período, o gênero poético perpetuou o conceito da rima. Contudo, os poetas ditos modernos começaram um processo de rompimento desta tradição, e o verso branco e livre começaram a se popularizar. Com este primeiro movimento da Modernidade, o gênero poético inicia um processo de problematização de seu discurso, por começar a se desvincular da antiga convencionalidade. Todavia, as mudanças na forma da criação poética não são interrompidas e os artistas seguem rompendo com tradições. A partir disto, busca-se a comparação entre o poema “l(a” (1958), do poeta moderno americano E.E. Cummings e da tela “Todos os rios”(1988), do artista plástico José Leonilson. Busca-se, a partir de teorias sobre a poesia propostas por Ezra Pound, Jacques Derrida, Gustavo Ribeiro e pelos poetas Concretos Brasileiros ao lado dos estudos do signo como proposto por Sanders Peirce, observar a forma como ambas as obras se comportam como textos poéticos ao mesmo tempo que se comportam como obras de arte visuais – seja a partir das cores sobrepostas ou a partir do talhamento do sigo dentro do poema de modo que este adquira características icônicas. Ao final, será observado como, tanto a tela de Leonilson quanto o poema de Cummings, mesclam o poético e o visual de modo a fazer com que ambas as características se tornem indivisíveis. Tal ocorrência parece fazer com que o gênero poético se amplie, indo além dos versos impressos em papel. Tal multiplicidade de características do discurso poético o revela, ao que parece, indefinível.

      Palavras–chave: Poesia visual. Artes plásticas. E. E. Cummings. José Leonilson.

       

      A NARRATIVA POÉTICA EM “O BÚFALO” DE CLARICE LISPECTOR

      Letícia Coleone Pires

       

      Sempre houve a tendência e necessidade de se classificar e separar a produção literária em gêneros, a mais conhecida das classificações literárias supõe a tríade épico, lírico e dramático, porém, como já era de se esperar, tais gêneros não são estanques, como a própria língua não o é, e, por vezes, as fronteiras entre eles se diluem, chegando ao desaparecimento, provocando o que conhecemos como gêneros híbridos, tais como a narrativa poética. É justamente por essa hibridização textual que Clarice Lispector se destaca no cenário nacional, o que fez com que seu principal crítico, Benedito Nunes (1995, p. 142), proferisse a seguinte constatação: “Na verdade, a prosa de Clarice Lispector é medularmente poética”. Assim sendo, a presente apresentação tem objetivo reflexionar sobre os principais elementos poéticos existentes no conto “O búfalo”, de Clarice Lispector, situado na coletânea Laços de família. A análise do texto selecionado realizar-se-á por meio do exame detido da narrativa, sobretudo da linguagem, através do uso de teorias sobre a narrativa poética, como os livros The lyrical novel (1966) de Ralph Freedman, Le récit poétique (1978) de J. Y. Tadié. Para mais, tendo em vista a constante, e imprescindível, homologação entre o plano do conteúdo e o plano da expressão, ou seja, além de explorar os recursos linguísticos apontados – aliteração, assonância, paralelismo, repetição -, de observar as categorias narrativas – tempo, espaço, personagem -, pretende-se investigar como esses recursos estruturais contribuem para a significação, construção da história. Por fim, será observado se o conto em foco apresenta também características de uma narrativa poética apontadas por J. Y. Tadié, em Le récit poétique (1978), como a não especificação da personagem, favorecendo o espaço e a linguagem do texto, o destaque da busca da personagem, seu itinerário e a modificação do eu.

      Palavras–chave: Narrativa poética. Clarice Lispector. O búfalo.

       

      A POETAGEM BONITA NO SÉCULO XXI

      Lilian Escorel de Carvalho

       

      Nesta comunicação, apoiada na noção de literatura como sistema do crítico Antonio Candido, proponho-me a apresentar um retrato da cena literária hoje no país, focalizando a poesia desde que passei a frequentá-la, e também a escrevê-la, a partir da capital paulista. A viva e pujante produção de poesia em nossos dias me faz pensar em A poetagem bonita, título dado pelo escritor e poeta modernista Mário de Andrade a livro não publicado, mas planejado. É o que demonstrou Marina Damasceno em A poetagem bonita: edição e estudo de livro inédito de Mário de Andrade, tese de doutorado defendida em 2018 na Universidade de São Paulo.Neste volume inédito, o autor de Pauliceia desvairada, livro, vale lembrar, que inaugura a poesia moderna em nosso país em 1922, tencionava reunir seus artigos de crítica literária sobre a poesia de vanguarda, divulgados em periódicos nos anos 1920 e 1930. Na revolução estética da primeira hora do Modernismo brasileiro no século XX e na revolução estética da primeira hora das mudanças tecnológicas do século XXI, ocorre uma espécie de estouro, um verdadeiro “acontecimento da poesia”, expressão oportuna cunhada por outro poeta; este, de hoje: Fernando Paixão. São produções vitais e de alta qualidade em suas faturas e edições. Reproduzem-se em quantidade vindas de norte a sul do país, em múltiplas vozes. Das bordas ao centro e vice-versa. Coletivas, profundamente humanas e sintonizadas com a criação poética internacional. Sendo assim, após apresentar o retrato da produção poética atual no Brasil, buscarei construir uma ponte entre as duas poetagens bonitas. Seria mesmo bonito de imaginar o livro inédito do poeta paulistano se expandir: ver nele entrar esta nova e diversa produção.

      Palavras-chave: Poesia moderna. Poesia contemporânea. Sistema literário. Mário de Andrade. Poetagem bonita.

       

       

      POESIA E PROSA NA OBRA DE ANTONIO CANDIDO: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E ALUÍSIO AZEVEDO

      Lívia Fernandes Nunes

       

      Os gêneros literários foram pensados pelo crítico literário Antonio Candido nas suas súmulas de teoria da poesia e da prosa: O estudo analítico do poema (1987) e A personagem do romance (1968). Na primeira, o autor reconhece que, para distinguir os dois grandes gêneros, é preciso compreender o tipo de linguagem, leitura e público de cada um. Para o crítico, o diferencial da poesia moderna seria o modo como ela transfigura a realidade: causando estranhamento por meio da condensação e da racionalização de ideias ilógicas, enquanto a prosa faria referência direta ao cotidiano. Na segunda, investiga a construção da personagem e como, por meio dela, o escritor consegue criar o efeito verossímil. Uma hipótese é que o seu método crítico tenha sido mais viável em abordagens de prosa, considerando a sua ligação com o real, que, mesmo em prosas poéticas e introspectivas, se manifesta como aspectos sociológicos, psicológicos e biográficos. Por isso, pretendemos examinar dois de seus ensaios — “As inquietudes na poesia de Drummond” e “De cortiço a cortiço” —  para, por um lado, compreendermos o modo como o crítico analisa as obras de Carlos Drummond de Andrade e Aluísio Azevedo e, por outro lado, rastrearmos uma unidade entre sua analítica da prosa e da poesia.

      Palavras–chave: Crítica e análise. Antonio Candido. Poesia e prosa.

       

      A POESIA PELO PENSAMENTO DE ALAIN BADIOU

      Lucas Rodrigues Negri

       

      Dentro do eixo temático de teorias da poesia, irei apresentar alguns aspectos do pensamento acerca da poesia que se podem depreender da obra do filósofo francês Alain Badiou. Apesar de algumas de suas reflexões sobre o assunto serem já bastante divulgadas no Brasil, principalmente a partir de obras como o “Pequeno manual de inestética” ou “Para uma nova teoria do sujeito: conferências brasileiras”, ainda é raro que seu sistema filosófico sirva de base teórica para a pesquisa em literatura, em contraste com outros pensadores franceses contemporâneos como Deleuze ou Derrida. Isso certamente se deve, em parte, à forma como sua filosofia evita aquilo que chama de sutura às artes, confrontando-se com a tendência (em certo campo, dominante) de aproximar a filosofia, ou mesmo a ontologia, da enunciação poética. Badiou a aproxima, pelo contrário, da linguagem matemática. O que proponho é, para além de focar naquilo que o autor fala diretamente sobre poesia, apresentar aspectos de sua filosofia (sistematizada nas obras “O ser e o evento”, “Logiques des mondes” e “L’immanence des vérités” – estes dois últimos ainda sem tradução ao português) que podem fornecer material para os estudos de poesia. Nesta exposição, abordarei principalmente o problema da sutura e como ela se relaciona com a questão da diferença e da multiplicidade, bem como algo acerca de seus conceitos de sujeito e verdade que podem apontar para reflexões sobre as noções de estilo e leitura nos estudos literários. Meu objetivo, com a apresentação, é contribuir para os estudos contemporâneos de poesia, divulgando as questões colocadas pela filosofia de Alain Badiou, apontando, nesse momento, para considerações acerca da transmidialidade, da noção de suporte e do tipo de engajamento demandado pela leitura literária.

      Palavras-chave: Poesia. Alain Badiou. Teoria da poesia. Leitura. Transmidialidade.

       

      FORMA E PERFORMANCE: ONDE NASCE E COMO ACONTECE UMA OBRA DE SPOKEN WORD POETRY

      Luís Otávio Araujo Leal de Souza

       

      A spoken word poetry é uma corrente literária de visibilidade crescente diretamente ligada a grupos sociais marginalizados e que, portanto, intenta romper com convenções formais e acadêmicas em prol de maior acessibilidade e democratização. Trata-se de um tipo de poesia oral cujas características comuns ocupam mais os campos sociais e ideológicos do que a forma propriamente dita, mas que, ainda assim, arranha os limiares entre a poesia e artes performáticas como o teatro, entre a performance e a escrita, entre a imagética do poema e sua construção. Tendo por base, dentre outros suportes teóricos, as noções de poético de Dufrenne (1963) e as atribuições da poesia oral de Zumthor (1997), analisar-se-ão dois poemas: Siri: A Coping Mechanism, de Patrick Roche, em que a performance é tão essencial ao texto que, se apresentado como poema escrito e versificado, não só se perde a maior parte de sua expressividade, mas também dificulta-se radicalmente a compreensão, e Joey, de Neil Hilborn, em que o autor, ao referir-se aos acontecimentos que se darão mais adiante na obra, situa a linearidade do poema no tempo-espaço da performance, e não no espaço físico da(s) página(s). Com a análise e o paralelo entre estas duas obras, busca-se, ao ressaltar características até certo ponto coletivas desta corrente, mais do que responder (posto que trata-se de uma corrente que ainda muito tem a crescer e a solidificar), propor perguntas a respeito da classificação, da forma, da linearidade, em suma, das dicotomias que a spoken word poetry engendra.

      Palavras–chave: Poesia. Forma. Oralidade. Performance. Interpretação.

       

       

      UMA FACE DO AMOR NA LÍRICA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

      Lysllaynne Pryscylla Tavela

       

      O amor é tema recorrente em toda produção poética de Carlos Drummond de Andrade, entretanto o tema recebe maior ênfase em seus últimos livros, o que é evidenciado pelo título A falta que ama (1968); A paixão medida (1980); Amar se aprende amando (1985) e O amor natural (1992) ou pelo número de poemas que problematizam o amor e sua forma de existência desajustada, sendo essa a face do amor que reflete as inquietudes de um eu retorcido, crítico e lúcido, testemunha de dramáticas situações de existência, e preso em um mundo caduco. Em suas últimas quatro obras – Corpo (1984); Amar se aprende amando (1985); O amor natural (1992) e Farewell (1996) há um número expressivo de poemas que exaltam o amor e formam o corpus desta pesquisa. Trata-se de outra face amorosa, aquela que reflete um amor pleno, que suplanta o tempo, a morte e a corrupção e não se restringe à atração corpórea. No poema “O seu santo nome”, incluso na obra Corpo, Drummond revela a importância da palavra amor, sendo ela perfeição, nudez e exílio, seus atributos demonstram a aproximação do amor com a própria poesia. Este metapoema evidencia que o discurso poético em seu grau mais elevado acompanha o amor pleno, conforme revelou a análise individual, que abrange comentário, interpretação e análise propriamente dita, como fora proposto por Antonio Candido em O estudo analítico do poema (2006). Assim sendo, pretende-se nesta comunicação compreender as formas de exaltação amorosa e como esse discurso poético se relaciona com as inquietudes que sempre acompanharam o poeta, reveladas por Candido em “Inquietudes na poesia de Drummond” (2011), pois nesse poema, o eu-poético apresenta-se lúcido e sereno, porém mais distanciado da realidade corriqueira e próximos da plenitude do amor e da poesia.

      Palavras–chave: Poesia moderna. Carlos Drummond de Andrade. Poesia brasileira. Temática amorosa.

       

      A POESIA NA FORMAÇÃO DE UM SUJEITO CRÍTICO E REFLEXIVO: DIÁLOGO DIALÓGICO ENTRE RAP, SLAN E CÂNONES LITERÁRIOS EM SALA DE AULA

      Marcelo da Silva Justiniano

       

      O trabalho a ser apresentado é parte integrante de pesquisa de mestrado realizada em escolas públicas na região do ABC paulista/ SP que procurou investigar sob perspectiva da Análise Dialógica do Discurso a linguagem marginalizada em ambiente escolar, considerando todos sujeitos discursivos envolvidos nessa esfera comunicativa. Desta forma, em parte da pesquisa, ao investigarmos gêneros discursivos oriundos do entorno destas escolas relacionadas à cultura local, verificamos ser bastante marcante movimentos culturais em que se faziam presentes RAP, batalhas de rima e Slan resistência. Contudo, a pesquisa revelou também certa resistência e em muitos casos cenas de preconceito com a cultura local por parte da escola. Em muitos discursos pedagógicos os profissionais entendiam a escola como uma instituição depuradora de uma cultura inferior, cabendo à instituição escolar apresentar a cultura de valor legitimado em substituição à cultura local. Porém, na contramão deste posicionamento, como proposta de ruptura e transgressão de uma cultura hegemônica e etnocêntrica de uma instituição que apresenta-se como Aparelho Ideológico do Estado, apresentamos e discutimos a pedagogia do multiletramento. Este modelo prático e teórico de pedagogia, cunhado pelo Grupo de nova Londres/ EUA(1994), tem como base a multiculturalidade e multisemiose. Face à pesquisa, propusemos um projeto que se realizou no decorrer do ano letivo estabelecendo um diálogo dialético e dialógico da poesia do RAP e do Slan resistência junto aos poemas de cânones de nossa literatura dentro da instituição escolar numa perspectiva crítica social dos conteúdos. O desfecho deste projeto  revela o impacto dentro da instituição escolar por meio da análise do discurso dos sujeitos discursivos desta esfera bem como a recepção apresentada da juventude local diante de composições artísticas legitimadas e valorizadas socialmente. Para além, culminaremos os resultados como proposta de pesquisa de doutorado na investigação do signo ideológico e o embate de vozes sociais na arena escolar.

      Palavras–chave: Multiletramento. Multiculturalidad. RAP. Slan resistência.

       

      “O POEMA DA PINTURA – A MOLDURA E A MEMÓRIA EM POEMAS, OBRA DE PORTINARI”

      Márcia Maria Sant´Ana Jóe

       

      A obra póstuma de 1964, “Poemas”, de Cândido Portinari, seu único livro de poemas e sem ilustrações está dividida em 4 partes: “O menino e o povoado”, “Aparições”, “A revolta” e “Uma prece”. Os temas de Portinari-pintor e Portinari-poeta são os mesmos, mas agora são quadros feitos de palavras: as alegrias e medos dos tempos em Brodósqui. Vamos estudar como a moldura ou o enquadramento das pinturas de Portinari estão presentes no poema do poeta. A moldura aparecerá no poema como procedimento estético via isolamento de imagens figurativas. O objetivo é de mostrar que esse método, mais aplicado em imagens plásticas ou fílmicas, pode ser considerado uma forma de análise possível também em poemas. O poema a ser analisado é um excerto de “O menino e o povoado” em que o circo emoldura a memória do menino que ganha expansão imaginativa. A intenção é destacar a extrapolação do sensível. As relações estéticas próprias da poesia: ritmo, rima e distribuição espacial das palavras podem configurar uma poética que se aproxime da pintura de Portinari a ser também analisada. O poema referente ao circo possui um percurso gerativo de ordem tensiva e afetiva ligadas às paixões e aos sentimentos, fazem sentido para entender os poemas, únicos, no universo do artista-pintor que transitava entre as fronteiras artísticas.

      Palavras-chave: Portinari. Poesia. Pintura. Memória. Moldura.

       

       

      ESCREVER É “DAR A VER”: O POETA-CURADOR, O LIVRO MUSEU

      Mariane Tavares

       

      Em entrevista a Geneton Moraes, João Cabral de Melo Neto afirma que poesia é coisa que se faz vendo, que não consegue escrever sem ver o poema tomar forma. Reconhecido pela crítica como um poeta antilírico, preso à razão, nossa proposta é, a partir do livro Museu de tudo (1975), ler a obra de João Cabral em diálogo com as artes plásticas, mostrando como, em alguma medida, a conversa que o poeta estabelece com outros poetas e artistas fala mais sobre si do que dos outros. Lauro Escorel diz que nessa obra sujeito e objeto se introjetam de tal maneira que o poeta esconde sua personalidade empírica, mas revela sua personagem estética. Ou seja, em um primeiro momento analisamos as semelhanças e diferenças da função do poeta e do curador e como elas se cruzam, enquanto João Cabral escreve, seleciona e organiza a disposição e temática dos poemas; em seguida relacionamos o conceito de museu e livro, traçando paralelos entre os quadros que originaram os poemas; enfim, discutimos como a imagem se transforma em palavra, quais as implicações disso naquilo que o leitor vê. A perspectiva teórica adotada aqui é a de Adorno (1998), Didi-Huberman (1995) e Malraux (2014) e as perguntas que conduzem essa reflexão giram em torno do que há de experimental no livro, quais recursos estilísticos o poeta usa para conduzir o leitor nessa “exposição”, como a metáfora do “museu” revela as preferências e também características de sua poética que visa trazer memórias que não podem ser esquecidas, isto é, as personalidades que aparecem no livro necessitam de um registro para não se perderem.

      Palavras – chave:  Poesia. Outras artes. Museu. João Cabral de Melo Neto.

       

      FEUILLES DE ROUTE E PAU-BRASIL: AS RELAÇÕES ESTÉTICAS ENTRE BLAISE CENDRARS, OSWALD DE ANDRADE E TARSILA DO AMARAL

      Natalia Aparecida Bisio de Araujo

       

      Em viagens pelo Brasil, Blaise Cendrars, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral recolhem elementos para suas obras à medida que estudavam mais a história e a cultura do país. Tal evento inspira Feuilles de Route (1924), de Cendrars, e o movimento Pau-Brasil, idealizado por Oswald, que resulta na obra de poemas homônima do escritor e em várias telas de Tarsila. Os livros de poesia de Cendrars e Oswald foram ilustrados com croquis da pintora, que dialogavam com os poemas. O catálogo da primeira exposição individual de Tarsila em Paris, na Galeria Percier (1926), foi composto pelos poemas de Feuilles de Route. Os projetos estéticos das obras relacionam-se pelo primitivismo, despojamento e concisão da linguagem poética e pictórica: enquanto os poemas de Cendrars e Oswald revelam a (re)descoberta do Brasil em uma linguagem despojada, como muitos textos breves e descritivos, os croquis de Tarsila para as duas obras possuem a mesma brevidade e agilidade dos versos, tais como rápidas anotações que se fazem em um caderno de notas, registrando brevemente uma experiência ou a observação da paisagem do país. As telas revelam as mesmas características dos croquis e dos poemas: o retrato primitivo do Brasil. A partir disso, o objetivo principal deste trabalho, proposto ao eixo temático “Poesia, outras artes e outras mídias”, é examinar as relações estéticas entre as obras de Cendrars, Oswald e Tarsila, comprovando que houve um processo criativo conjunto entre os três artistas. A análise comparada entre Feuilles de Route, Pau-Brasil, os croquis para ambos os livros e as pintura da fase pau-brasil de Tarsila se dará por meio de teorias e críticas da poesia; do estudo da modernidade, da vanguarda e do modernismo brasileiro; de obras que relataram a história da relação entre os artistas; e de teorias da literatura comparada.

      Palavras–chave: Blaise Cendrars. Oswald de Andrade. Tarsila do Amaral. Feuilles de Route. Pau-Brasil.

       

       

      POR UM LIRISMO OBJETIVO: A MATÉRIA-EMOÇÃO DE ORIDES FONTELA

      Nathaly Felipe Ferreira Alves

       

      A obra poética de Orides Fontela possui uma singular capacidade de extrair experimentações do real, pelas quais a subjetividade lírica alcança uma íntima relação com o mundo. Seus poemas promoveriam uma síntese da experiência do sujeito lírico “eclipsado” (Candido, 1983) à objetividade do real, espaço de encontro e de alteridade aberta à experiência do “fora de si” (Collot, 2018). Os textos de Orides revelariam, ainda que “subterraneamente”, cenas líricas capazes de plasmar a “cotidianidade” do ser. Tal universo lírico realizar-se-ia depuradamente, tanto na forma, quanto no seu vocabulário-motivo básico, formador um conjunto imagético que mobiliza a experiência do “eu” no mundo em que se parece estar “a um passo” – parafraseando as epígrafes de Transposição (1969) e de Alba (1983) do toque, do ser, da coisa e do sublime. Mas estar “a um passo” supõe que o sujeito lírico esteja “sempre atento (ao)” real e mais: que o sinta. Nossa hipótese de leitura baseia-se nisto: na imbricação do sujeito no mundo, algo que denominamos, por ora, como “semântica da proximidade” viabilizada, a nosso ver, por meio da aproximação ao conceito de estrutura de horizonte, adaptado da fenomenologia por Michel Collot (2005). Supomos que o “eu” nos poemas de Orides Fontela seja instituído através (já que atravessado) do deslocamento que o instiga a experimentar a objetividade. Nesta comunicação interessa-nos apreciar exatamente isto: como a voz lírica presente no poema “Sensação” (FONTELA, 2015), abre-se ao “fora de si” e que, por integrar o mundo exterior, redefine-se, uma vez que, conforme Collot (2018, p. 60): “o poeta projeta fora de si, nas imagens das coisas e na ressonância do poema, a tonalidade afetiva de sua realização com o mundo, em que, em compensação, interioriza à matéria-emoção”. Assim, o “eu” permite-se partilhar uma poética mobilizada pela sua imbricação afetiva que atravessa e se atravessa na carnadura concreta da linguagem e na experiência sensorial frutificada no mundo.

      Palavras–chave: Orides Fontela. Lirismo objetivo. Estrutura de horizonte. “Sensação”.

       

       

      O NAUFRÁGIO DA INVENCÍVEL ARMADA: HAROLDO DE CAMPOS E STÉPHANE MALLARMÉ

      Nicollas Ranieri de Moraes Pessoa

       

      Datado de 1955, o poema A invencível armada, de Haroldo de Campos, pode ser visto como o último da primeira fase da obra de Haroldo, imediatamente anterior às experiências da poesia concreta propriamente dita. O título faz referência à esquadra espanhola do Rei Filipe II, que pretendia invadir a Inglaterra no fim do séc. XVI e foi derrotada. Desse modo, a expressão “invencível armada” tem um sentido irônico e designa uma presunção de grandeza com um desfecho malogrado. A referência histórica permite a exploração de um tema caro à poesia moderna e, em especial, a Mallarmé. Trata-se aqui do tema do naufrágio, decisivo no seminal poema Un coup de dés jamais n’abolira le hasard. Além disso, o poema de Haroldo de Campos em questão se vale de uma disposição gráfica que se pretende herdeira do legado de Mallarmé, isto é, da exploração do branco da página por meio de uma composição constelar. De certo modo, Haroldo de Campos refaz o percurso de Mallarmé para melhor formular suas próprias questões e intervir no debate poético do seu momento. Evidentemente, o nome de Mallarmé é fundamental para a formação do elenco do paideuma da poesia concreta e é uma das referências tutelares para Haroldo de Campos desde o início do seu trajeto. Mas Mallarmé é também um dos poetas da modernidade que mais cabalmente coloca em questão a soberba artística e o desafio político da comunidade. Como notou João Alexandre Barbosa (1979), o poema de Haroldo é publicado no mesmo momento em que aparece o texto “Poesia e paraíso perdido” (2006), o primeiro texto crítico-teórico do poeta, no qual ele propõe um abandono do conformismo, da “mística do pecado original” e das estéticas paradisíacas, o que dá ensejo à sua reivindicação da aventura estética. Dessa forma, o presente o trabalho pretende compreender o sentido da intervenção poética de Haroldo de Campos a partir de sua leitura de Mallarmé e de sua articulação da soberba como modo de responder ao desafio político do discurso poético.

      Palavras–chave: Haroldo de Campos. Stéphane Mallarmé. Poesia moderna e contemporânea. Soberba. Naufrágio.

       

      ILUMINAÇÕES PROFANAS: O UNIVERSO ONÍRICO-URBANO EM PARANÓIA, DE ROBERTO PIVA

      Rangel Gomes de Andrade

       

      Em Paranóia, de 1963, Roberto Piva apresenta ao leitor uma cidade de São Paulo noturna, observada pelos olhos de um eu lírico em estado delirante. O poeta nos oferece um itinerário onírico pela capital paulista, cuja ambientação mórbida transfigura os habitantes da vida noturna em seres míticos, imagens que transitam entre figurações do sagrado e do profano. O êxtase místico acompanha a flânerie do poeta pelo ambiente urbano deformado pela noite. Assim, objetivamos analisar dois dos poemas que integram o volume Paranóia, intitulados “Praça da República dos meus Sonhos” e “Visão de São Paulo à noite (Poema Antropófago sob Narcótico)”, sob a ótica da noite e do sonho, e verificar de que modo esses elementos incidem sobre a ambientação urbana e as imagens que são produzidas pelo eu lírico a partir da visão dessa São Paulo noturna. Para embasar nossa análise, mobilizaremos obras que explorem as relações entre a noite e o sonhar, e o espaço urbano apreendido sob uma ótica onírica, a exemplo de A poética do devaneio, de Gaston Bachelard, Noite: a vida noturna, a linguagem da noite, o sono e os sonhos, de A. Alvarez, e A escrita como lugar da cidade: ensaios sobre a apreensão e representação do espaço urbano na literatura, de Sérgio Massagli.

      Palavras-chave: Roberto Piva. Poesia contemporânea. Cidade. Noite. Sonho.

       

      POESIA E FOTOGRAFIAS EM “O CADERNO DAS INVIABILIDADES, DE ELISA CAETANO E LAÍS BLANCO

      Renan Augusto Ferreira Bolognin

       

      O caderno das inviabilidades (2016) foi escrito por Eliza Caetano e possui fotografias de Laís Blanco. Neste livro, poemas e fotos denotam a intraduzibilidade do poético a um suporte, ou corpo. Sua poética faz parte do inexequível, do intransitável, do intraduzível e seus elementos derramam no papel alguns resquícios desse imaterializável nos poemas e cliques fotográficos (i). Para realizarmos a análise dos poemas e fotografias do livro das autoras, recorremos ao capítulo “A voz e o corpo” – de Políticas da escrita, de Jacques Rancière (1995, p. 141-142) – no qual as análises de alguns poemas de Rimbaud concluem a existência de um corpo debaixo das letras poéticas (ii). Também merece destaque a aproximação da escrita ao branco da página, que tanto interessa a Jacques Derrida (1997) em La diseminación, como auxílio teórico para analisarmos o referido livro das autoras. No mais, essa escrita do branco auxilia o delineamento de uma proposta poética solicitante da participação leitora para inviabilizar (ou não) os significados das letras negras d’O caderno das inviabilidades (iii). Portanto, entendemos a poética desse livro como emperrada: é uma poesia do inefável, aquela que não estabelece onde assentar-se por não limitar-se a um único corpo. Do mesmo modo são as fotografias do livro, tiradas por Laís Blanco: colocam em xeque sua relação umbilical com o representado, poética e performaticamente, por haver sido pensadas de antemão e não formar parte de uma categoria fotográfica obcecada pelo real. Quer dizer, essas fotos questionam o corpo ao qual aderem, seja o papel fotográfico, seja o livro. Em outras palavras, ambos os campos se ressignificam, além de provocar um curto-circuito no entrelaçamento do poético a um suporte. Apresentados o exórdio (i), nossa fundamentação teórica (ii) e nossa metodologia de análise (iii), esta comunicação tem como objetivo apresentar análises de alguns poemas e fotografias de O caderno das inviabilidades.

      Palavras–chave: Poesia brasileira contemporânea. Fotografias. Desconstrução.

       

       

      EDUCAÇÃO EM QUATRO DIMENSÕES E ENSINO DE POESIA: CONVERGÊNCIAS

      Rodrigo Valverde Denubila

       

      Com base nas reflexões do professor do MIT e da Faculdade de Educação de Harvard Charles Fadel (2015), da neurocientista Maryanne Woolf (2019) e do historiador Yuval Noah Harari (2018), respectivamente, sobre a educação em quatro dimensões, sobre as mudanças ocorridas no processo de leitura e sobre o futuro da educação, ponderam-se dois pontos intrínsecos ao ensino de literatura e de poesia. O letramento literário necessita ser pensado como meio elementar para suprir as demandas do hoje, mas também as do amanhã. Nesse cenário de interseção de tempos, a literatura se apresenta como campo privilegiado, pois cada vez mais se exigirá dos discentes a leitura profunda do ser em si, dos outros, das coisas e da sociedade. Tais aspectos serão competências básicas ao mercado de trabalho futuro à proporção que atividades mecânicas serão substituídas pela inteligência artificial. Reconhecida a pertinência desse cenário, objetiva-se, pois, assinalar a importância da leitura literária como central para a futura inserção social e econômica do aluno. Por esse motivo, investigam-se as razões da literatura ser um direito humano de ontem, de hoje e de amanhã por intermédio das reflexões de Antonio Candido (2011), assim como precisa ser valorizada, pois as habilidades oriundas do letramento literário satisfatório fortalecem conhecimentos, competências e afetos. Em vista disso, retoma-se as ponderações de Vincent Jouve (2012), Magda Becker Soares (2019), Carlos Ceia (1999), Marisa Lajolo (2018), Rildo Cosson (2018), Regina Zilberman (2009), Charles Fadel (2015) José Luiz Jobim (2009) e José Luiz Fiorin (2009). Após estudo teórico acerca de como a literatura entra na sala de aula, focaliza-se o caso do ensino de poesia, quando se adotam as considerações de Hélder Pinheiro (2018).

      Palavras–chave: Educação em quatro dimensões. Poesia e ensino. Letramento literário.

       

      A LONGA NOITE SIMBOLISTA: A PERMANÊNCIA DO FIN-DE-SIÈCLE NA POESIA DE CECÍLIA MEIRELES

      Sheila Dálio

       

      O pendor da poesia de Cecília Meireles para os campos do inconsciente, da morte, da transcendência vincula sua obra à tradição simbolista A descoberta do inconsciente, por exemplo, demonstra que o mistério do mundo não habita uma esfera transcendente, mas está no cerne de nossa identidade. A questão, “Há uma noite simbolista após o crepúsculo?”, de Anna Balakian (1967), sobre o porvir do simbolismo e suas conexões com as vanguardas não difere do modo como a poesia de Cecília Meireles foi iniciada e da maneira pela qual as influências do simbolismo foram apropriadas por sua obra, ora por referências explícitas, ora como reminiscências sutis. De certo modo, ao passo que Cecília Meireles se apropriava da sua identidade poética, os reflexos do simbolismo, intensos em Espectros (1919), caminham paulatinamente, em sua obra madura (Viagem, Vaga Música, Mar Absoluto e outros Poemas e Retrato Natural), para uma nova forma de expressão, que atesta o hibridismo entre a estética simbolista e a realidade mais chã, agregando ao mundo das abstrações simbolistas uma pluralidade de temas, a saber: a marca da orfandade, as relações humanas projetadas no solo da experiência do comum, a relação do “Eu” e “Tu”, a moldura do autorretrato, etc. Com o objetivo de contemplar o diálogo da produção de Cecília Meireles com a tradição do simbolismo, este estudo tem por orientação atentar-se às ressonâncias e dissonâncias entre o trabalho poético de Cecília Meireles e a tradição em que o simbolismo se insere; elementos que encontram campo privilegiado de investigação nas características de sua obra que são de nosso interesse, a saber, as influências do simbolismo, as formas de expressão do sublime e o processo pelo qual se dão as representações do sublime feminino.

      Palavras–chave: Cecília Meireles. Sublime feminino. Poesia Moderna.

      Comissões 1° EIP

      COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO ORGANIZADORA DO 1º EIP 2020

      Fabiane Renata Borsato (Unesp Araraquara)

      Guacira Marcondes Machado Leite (Unesp Araraquara)

      Ana Carolina Miguel Costa (Unesp Araraquara)

      Brendon de Alcantara Diogo (Unesp Araraquara)

      Daniel Rodrigues da Luz (Unesp Araraquara)

      Eli Oliveira Dias (Unesp Araraquara)

      Elisa Colombari Adorni(Unesp Araraquara)

      Giovanna Jesus Gonçalves Julio (Unesp Araraquara)

      Heloísa Helena Ribeiro (Unesp Araraquara)

      Laura Muriel Costa (Unesp Araraquara)

      Lucas Almeida Dalava (Unesp Araraquara)

      Luiza de Toledo Teixeira (Unesp Araraquara)

      Vinícius Luis Bocanegra (Unesp Araraquara)

      COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO CIENTÍFICA DO 1º EIP 2020-2021

      Adalberto Luis Vicente (Unesp Araraquara)

      Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Unesp Araraquara)

      Cristiane Rodrigues de Souza (UFMS/CPTL)

      Fabiane Renata Borsato (Unesp Araraquara)

      Fabiano Rodrigo da Silva Santos (Unesp Assis)

      Francine Fernandes Weiss Ricieri (Unifesp)

      Guacira Marcondes Machado Leite (Unesp Araraquara)

      Joelma Santana Siqueira (UF – Viçosa)

      Leila de Aguiar Costa (Unifesp)

      Márcio Natalino Thamos (Unesp – Araraquara)

      Marcos Antonio Siscar (Unicamp)

      Osvaldo Fontes Filho (Unifesp)

      Pedro Marques Neto (Unifesp)

      Solange Fiuza Cardoso Yokozawa (UFG)

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